Entenda mulher trans: identidade, direitos e parentalidade

Sumário

Você já deve ter ouvido falar em mulheres trans e outras denominações que fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+. Embora este assunto tenha ganhado mais visibilidade ao longo dos anos, a identidade trans ainda traz muitas dúvidas e confusão. 

Neste texto você vai saber quem é a mulher trans e quais as diferenças entre identidade de gênero, expressão de gênero, orientação sexual e sexo biológico. Vamos explicar também quais as opções possíveis para mulher trans ter filhos e formar suas famílias.

Boa leitura!

O que significa ser uma mulher trans? 

A mulher transgênero, ou simplesmente mulher trans, é uma pessoa que nasceu com o sexo biológico masculino, mas se autoidentifica e vivência o gênero feminino. Desta forma, a pessoa nasce com o aparelho reprodutivo de homem composto por pênis, escroto, testículos, próstata etc, mas sua identidade de gênero é feminina. 

Essa situação, muitas vezes,  provoca desconforto da mulher trans com seu próprio corpo. Por isso, elas buscam alternativas para adequar o seu corpo à forma com a qual se identificam. 

Nesse sentido, um dos primeiros passos é alterar aspectos externos da vida dessa pessoa, como mudar o nome e a forma de se vestir e de se apresentar, realizando a chamada transição social.

Uma segunda etapa para quem quer  assumir  sua identidade de gênero é a transição médica, que inclui terapias hormonais e procedimentos cirúrgicos.

Transição médica: que mudanças causam ao corpo da mulher trans?

Como vimos, a transição médica tem como objetivo afirmar, o máximo possível, o corpo da mulher trans à sua identidade feminina. Para isso, um caminho é a terapia hormonal ou estrogenioterapia que provoca aumento das mamas, redistribuição de gordura e suavização da pele.

Além disso, é possível recorrer à mamoplastia e à cirurgia de redesignação sexual como, por exemplo, a vaginoplastia, procedimento para criar uma vagina. Há também mulheres trans que optam pela orquiectomia, ou seja, a remoção dos testículos.

Para muitas mulheres trans, um dos procedimentos mais procurados é a Mamoplastia, ou implante de prótese mamária de silicone. Nesse sentido, o aumento das mamas é considerado importante na busca por um corpo mais  feminino. 

Assim, o cirurgião cria uma área interna de cerca de 12 centímetros que será recoberta com pele do pênis e do saco escrotal, enquanto a glande será usada para criação do clitóris. Além disso, a uretra e o aparelho urinário são adaptados para que a mulher trans consiga urinar sentada.

E finalmente, para impedir que o novo canal vaginal feche durante o período de cicatrização, é utilizado então um molde vaginal.  Desta forma, é  importante que o pós-operatório seja acompanhado de perto pela equipe médica que realizou o procedimento. 

Já a orquiectomia é um procedimento cirúrgico bem mais simples do que a vaginoplastia, e visa retirada dos testículos que produzem os espermatozóides. Para tanto, o cirurgião faz uma incisão na virilha ou escroto, acessando e removendo os testículos. Logo após, a incisão é fechada com pontos.

É importante salientar que na escolha pela transição médica, cada caso é um caso, e apenas uma conversa com especialista poderá determinar qual o melhor caminho.

Identidade de gênero, expressão de gênero, orientação sexual e sexo biológico: quais as diferenças?

Para quem não transita no universo LGBTQIAPN+ pode ser confuso diferenciar o que é identidade de gênero, expressão de gênero, orientação sexual e sexo biológico.  

Assim, a falta de conhecimento, muitas vezes, acarreta em atitudes de discriminação e falta de respeito. Desta forma, a informação é o melhor caminho para inclusão e igualdade das mulheres trans e de todos os indivíduos e diferentes grupos da sociedade. Por isso, vamos explicar abaixo as nomenclaturas corretas!

Identidade de gênero

A identidade de gênero é como alguém se sente em relação ao seu próprio gênero, o que pode não corresponder às características biológicas do nascimento. Ou seja, é a forma íntima com a qual a pessoa se identifica que não está necessariamente associada ao gênero masculino ou feminino.

Ao contrário do que muitos pensam, o gênero não está somente relacionado à anatomia dos órgãos sexuais. A autoimagem é o fator que se sobressai, uma vez que ela se define conforme   a percepção de si mesma.

Assim, uma pessoa pode nascer com sexo biológico feminino, mas se identificar com o gênero  masculino. Da mesma forma, um indivíduo que nasceu como homem pode se ver e se sentir como mulher. 

Neste sentido, quando a identidade de gênero está alinhada ao sexo biológico, a pessoa é considerada cisgênera. Por outro lado, quando a identidade de gênero não corresponde ao sexo atribuído no nascimento, a pessoa é reconhecida como transgênero ou trans.

Expressão de gênero

A expressão de gênero é a forma como a pessoa expressa publicamente seu gênero, seja através das roupas, maquiagem, corte de cabelo, etc.

Em outras palavras, é a maneira pela qual a pessoa mostra externamente o que sente por dentro, o que nem sempre corresponde ao sexo biológico do nascimento.

Orientação sexual

A orientação sexual diz respeito à atração que uma pessoa sente por outros indivíduos, seja emocional, romântica ou sexual. Este termo substitui a ideia de opção sexual, já que atração não é uma escolha, mas algo natural que se manifesta ao longo da vida.

Nesse sentido, existem diferentes orientações sexuais. Assim, se uma pessoa se atrai por alguém do gênero diferente do seu, ela é considerada heterossexual ou heteroafetiva. Por outro lado, se a atração acontece em relação a pessoas  do mesmo sexo, a pessoa é considerada homossexual ou homoafetiva. Nesse caso, as mulheres homossexuais são também chamadas de lésbicas, enquanto os homens de gays. 

Além disso, há os bixessuais ou bioafetivos que se sentem atraídos tanto por homens como por mulheres, e os assexuais que não têm interesse por nenhum dos gêneros. 

E completando, ainda há o individuo pansexual, que se atraí por qualquer representação de gênero, ou seja, gosta de pessoas no geral.

Sexo biológico

O sexo biológico é o sexo designado ao nascer, com fatores físicos, e fisiológicos que diferenciam homens e mulheres. Essas características biológicas incluem o aparelho reprodutor (inclusive a genitália), os hormônios e os cromossomos que carregamos ao nascer.

Neste contexto, as mulheres trans nascem com o sexo biológico masculino, e assim carregam os órgãos reprodutivos internos e externos de homens. Entretanto, ao longo do seu desenvolvimento essas pessoas percebem sua identificação com o gênero feminino.

LGBTQIAPN+ 

A sigla LGBTQIAPN+ abrange uma variedade de identidades de gênero e orientações sexuais que enfrentam discriminação social. Veja abaixo o significado de cada letra:

LetraDefinição
LLésbica: mulheres que sentem atração emocional, romântica ou sexual por outras mulheres.
GGay: homens que são atraídos afetiva e/ou sexualmente exclusivamente por outros homens.
BBissexual (ou Bi): pessoas que são atraídas afetiva e/ou sexualmente por  pessoas de qualquer gênero.
TTransgênero (Trans): pessoas cuja identidade de gênero difere do sexo atribuído no nascimento. Inclui homens e mulheres trans, travestis e pessoas não binárias.
QQueer: pessoas que não se enquadram nas normas de gênero e/ou sexualidade convencionais.Ou seja, não são exclusivamente heterossexuais e cisgêneros.
IIntersexual: indivíduos que nascem com características anatômicas ou cromossômicas que não se encaixam nas categorias tradicionais de masculino ou feminino.
AAssexual: pessoas que não sentem atração sexual por ninguém, embora possam experimentar atração romântica ou afetiva.
PPansexual: pessoas que se sentem atraídas afetiva e/ou sexualmente por indivíduos de todos os gêneros e identidades de gênero.
N/NBNão binários: pessoas que não se identificam exclusivamente como homem ou mulher, podendo se identificar com mais de um gênero ou nenhum.
+O símbolo de adição reconhece todas as outras identidades e orientações que não estão representadas nas letras anteriores.

A jornada da fertilidade para mulheres trans 

A jornada da fertilidade para mulheres trans é cheia de desafios, mas também de caminhos viáveis para chegar a uma gravidez. Mas afinal, mulher trans pode engravidar?

Mesmo que a mulher trans não possa gestar um bebê, já que não possui  útero, ela ainda pode realizar o sonho de ter um filho biológico. Para isso, existem algumas possibilidades a serem consideradas, especialmente para quem não realizou a cirurgia de redesignação sexual.

Nesse sentido, ela pode engravidar, através da relação sexual, uma pessoa que tenha o aparelho reprodutor feminino como uma mulher cis ou um homem trans. Para isso, é preciso interromper a terapia hormonal feminilizante que bloqueia a produção de testosterona e atrapalha a produção de espermatozoides. 

Além disso, a partir da coleta de esperma é possível também conseguir uma gravidez com técnicas de reprodução assistida como a Inseminação Artificial (IA) ou a Fertilização In Vitro (FIV). Quem deseja fazer hormonoterapia e a cirurgia de redesignação sexual e pretende ter filhos, a opção é realizar o congelamento de esperma antes desses processos de transição definitiva. 

Parágrafo explicando que a mulher trans que já fez a cirurgia de redesignação sexual não pode ter filhos biológicos, uma vez que ela amputa o pênis e etc (incluir a explicação do que acontece na cirurgia que impede a reprodução).

Conheça algumas técnicas da medicina reprodutiva que podem ajudar a mulher trans ter um filho biológico:

Inseminação Artificial (IA)

A Inseminação Artificial é um tratamento de infertilidade que consiste na introdução dos espermatozoides no trato genital feminino, visando a fecundação do óvulo. É um procedimento médico muito comum, bastante usado e de poucos efeitos colaterais.

Nesse sentido, existe a Inseminação Artificial Intracervical (IC), quando se coloca o esperma no colo do útero com uma seringa. Além disso, há também a Inseminação Artificial Intrauterina (IIU), quando se introduz o esperma dentro do útero. Desta forma, os espermatozóides  passam por uma seleção no laboratório, e apenas os mais rápidos serão injetados na cavidade uterina.

No caso da mulher trans é usado o esperma congelado antes da cirurgia de redesignação sexual e feita a inseminação em uma pessoa que tenha o aparelho reprodutor feminino.

Fertilização in Vitro (FIV)

A Fertilização In Vitro (FIV), conhecida popularmente como “bebê de proveta”, consiste na fecundação em ambiente laboratorial. Ou seja, o encontro dos gametas feminino e masculino não ocorre no interior do corpo da mulher. 

Desta forma, a FIV acontece a partir da coleta ou doação de óvulos e espermatozoides que são unidos em laboratório formando o embrião. Nesse sentido, após o desenvolvimento embrionário adequado, os embriões selecionados são transferidos para o útero onde vai se desenvolver a gestação. Em alguns casos, quando necessário, pode-se recorrer inclusive ao útero de substituição.

Direitos e reconhecimento social das mulheres trans 

Sabemos que a batalha pela igualdade e direitos das pessoas trans nas áreas legais, sociais e de saúde é uma questão pública fundamental. E, embora ainda não haja uma lei clara que regulamenta este assunto, já houve alguns avanços na legislação e no reconhecimento social das pessoas trans. Confira!

Alteração de Nome e Gênero nos Documentos Oficiais:

Nome Social

Desde 2018, travestis e transexuais têm o direito de usar seu nome social em todos os órgãos e entidades da administração pública federal, estadual e municipal. Isso significa que essas pessoas podem ser tratadas pelo nome com o qual se identificam em ambientes governamentais e em documentos não oficiais.

A mudança dos nomes nos documentos oficiais  pode ser realizada em cartórios, sem a necessidade de procedimentos judiciais.  Assim, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), entre os documentos necessários estão a certidão de nascimento, RG; CPF; do título de eleitor e comprovante de endereço. Além disso, os laudos médicos ou psicológicos que atestem a transexualidade podem ser apresentados, mas não são obrigatórios.

Leis Trabalhistas

No Brasil, as leis trabalhistas têm avançado para proteger os direitos das pessoas trans contra a discriminação no ambiente profissional.  Nesse sentido, a Lei nº 9.029/95, proibe a discriminação nas  relaçoes de trabalho por motivo de sexo, origem, raça, cor ecestado civil. Da mesma forma, também são proibidas práticas discriminatórias por  situação familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, entre outros.  Além disso, em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a LGBTfobia ao crime de racismo

Essas determinações representem um importante passo contra a discriminação de pessoas trans, não apenas no ambiente profissional, mas em todos os ambitios socias.  Entretanto, apesar desses avanços, ainda existem desafios significativos a serem superados para garantir o pleno respeito e a inclusão das pessoas trans no mercado de trabalho. 

Assim, é fundamental que as  empresas adotem políticas inclusivas, promovam a diversidade e criem um ambiente de trabalho seguro e acolhedor para todos, independentemente de sua identidade de gênero. 

Acesso à saúde:

Atualmente, o acesso à saúde para pessoas trans tem melhorado com políticas públicas específicas no Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje o SUS oferece gratuitamente terapias hormonais, acompanhamento médico e cirurgias de redesignação sexual.  

Apesar dos avanços, ainda há desafios como a falta de profissionais de saúde capacitados, longas filas de espera para tratamentos específicos e o preconceito por parte de alguns profissionais. 

Saúde e bem-estar: cuidados específicos para mulheres trans

A saúde e o bem-estar da mulher trans exigem cuidados específicos e sensíveis de acordo com a sua realidade. Assim, em 2011, foi estabelecida a Política Nacional de Saúde Integral LGBTQIAPN+ no SUS para atender às necessidades de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

Desta forma, as pessoas que fazem terapia hormonal ou optam por cirurgias de redesignação sexual têm direito a acompanhamento médico e multiprofissional, incluindo apoio psicológico.  Nesse sentido, os cuidados devem ser observados de perto para ver se há possíveis efeitos colaterais dos hormônios, bem como uma boa adaptação pós cirurgia. 

Além disso, é garantido acesso a serviços de saúde integral, com informações sobre contraceptivos, prevenção e tratamentos de infecções  sexualmente transmissíveis (ISTs)

Entretanto, é fundamental que todo esse cuidado seja realizado por profissionais capacitados para atender as mulheres trans de forma acolhedora e sem discriminação. 

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