Bebê com DNA de duas mães: é possível?

Sumário

Nos últimos anos, a possibilidade de um bebê nascer com o DNA de duas mães tem gerado muito interesse e discussão. Este caminho, aberto pela reprodução assistida, vem chamando muito a atenção principalmente de casais homoafetivos que buscam conexão genética com seus filhos.

Vale explicar que este tratamento é frequentemente confundido com o conceito de “maternidade compartilhada”, quando uma mãe fornece o óvulo e a outra, o útero. Entretanto, são duas situações diferentes. 

Então, em que casos um bebê realmente herda o DNA (material genético) das duas mães? Como isso funciona?

No texto a seguir vamos explicar em detalhes como a medicina reprodutiva  consegue produzir um embrião que carregue o material genético de duas mulheres. Vamos mostrar como essa técnica se diferencia do método ROPA (Recepção de Oócito de Parceira), no qual uma parceira doa o DNA e a outra gesta o bebê.

Continue lendo para entender como a ciência está transformando os sonhos de muitas famílias em realidade.

Boa leitura!

O que é um bebê com DNA de duas mães?

Um bebê com DNA de duas mães é aquele que carrega material genético de ambas as mulheres envolvidas no processo de maternidade. Como é possível? Para isso, o óvulo de uma das mães é fertilizado com o espermatozoide de um homem da família da parceira, como um irmão, tio ou outro parente (com parentesco de até 4° grau).

Desta forma, o embrião resultante de Fertilização in Vitro (FIV), realizada em laboratório, carrega material genético das duas famílias, criando uma ampla conexão biológica. 

Depois de formado, este embrião com genética compartilhada é transferido para o útero de uma das mulheres onde será gestado. 

Da mesma forma, também é possível que um bebê carregue o DNA de dois pais. Neste caso, o espermatozoide de um dos homens é usado para fecundar, através de FIV, um óvulo de uma mulher da família do parceiro como uma irmã, por exemplo. Entretanto, neste caso, o casal homoafetivo masculino vai precisar contar com útero de substituição para gestar o bebê.

Gravidez compartilhada entre mulheres: como funciona o método ROPA? 

O método ROPA (Recepção de Oócito de Parceira) é outra técnica de reprodução assistida voltada para casais homoafetivos femininos que desejam compartilhar a experiência da maternidade. 

Nesse procedimento, uma das mulheres doa os óvulos, que são fertilizados em laboratório com espermatozoides de um doador anônimo, geralmente  de um banco de esperma. Em seguida, o embrião resultante é transferido para o útero da outra parceira, que será responsável pela gestação. Esta foi a técnica escolhida pela cantora Ludmilla e sua parceira Brunna Gonçalves para terem o primeiro filho.

Diferente do bebê que carrega DNA de ambas as mães, no método ROPA o material genético é da mulher que doa o óvulo e do doador de esperma. A parceira, por sua vez, contribui para o processo gestando o embrião, estabelecendo um vínculo direto com a gestação.

Entretanto, embora o embrião no método ROPA não tenha DNA das duas mães, é importante lembrar que, segundo a epigenética, o ambiente uterino exerce influência significativa. 

Isso significa que a parceira que gesta também desempenha um papel biológico importante, influenciando a saúde e o desenvolvimento do bebê durante a gravidez.

Entenda mais sobre herança epigenética

A herança epigenética é o resultado da influência do meio e de diferentes  vivências na forma como os genes herdados são expressos. Ou seja, é parte da herança passada aos descendentes que vai além da genética do DNA em si.

Na reprodução assistida, a herança epigenética tem grande importância,  especialmente quando se pensa nos tratamentos que envolvem doação de óvulos, ou de espermatozoides. Isto porque a pessoa que não participa ativamente na herança genética se preocupa com a impossibilidade de transmitir ao filho suas características pessoais.  

Entretanto, estudos demonstram que a epigenética e o ambiente de criação têm papeis fundamentais na herança, nos comportamentos e nos vínculos que se formam.

Isto acontece porque, a hereditariedade epigenética pode interferir na forma como o DNA vai funcionar, agindo na expressão dos genes. Assim, apesar do embrião carregar a herança genética do óvulo doado e/ou do espermatozoide usado na Fertilização in Vitro (FIV), ele pode sofrer influências além da genética.

Inclusive já está comprovado que o ambiente intrauterino pode promover essas modificações epigenéticas. Desta forma, mães que gestam bebês sem seu DNA, tendem a deixar marcas únicas e duradouras no bebê que gestam.  

O papel da fertilização in vitro (FIV) na maternidade compartilhada

A Fertilização In Vitro (FIV) desempenha papel fundamental para que a maternidade compartilhada possa acontecer. Esta técnica de alta complexidade  utilizada para superar diferentes casos de infertilidade, possibilita que pais e mães solos , e casais homoafetivos tenham filhos.

A FIV é realizada por meio da coleta de gametas femininos e masculinos, seguida pela fecundação em laboratório. Após a formação do embrião, ele é transferido para o útero da pessoa que irá gestá-lo. Assim, nos casos de casais homoafetivos femininos, geralmente se usa óvulo de uma das mulheres e sêmen doado ou de algum parente da parceira. 

No entanto, é preciso escolher qual das duas futuras mães vai doar os óvulos e quem vai carregar o embrião. Neste sentido, como a idade é um dos principais fatores que interferem na qualidade dos óvulos, é aconselhável usar o material genético da parceira mais jovem. 

Após essa definição, o processo de FIV segue as etapas padrão. A mulher que vai doar os óvulos passa por estimulação ovariana com hormônios para produzir um número maior de óvulos em um único ciclo. Esses óvulos são coletados e fertilizados em laboratório com o sêmen escolhido.

Os embriões resultantes são monitorados até atingirem o estágio de blastocisto, momento em que estão prontos para serem transferidos ao útero. Após análise, um embrião é transferido, enquanto os excedentes são criopreservados. Os embriões congelados podem ser usados futuramente para uma nova gravidez  ou doados.

Escolha do doador de esperma: fatores importantes a considerar

A escolha do doador de esperma é uma etapa crucial no processo de maternidade compartilhada, o que requer atenção a diversos fatores. 

Um dos aspectos relevantes é o grau de parentesco do doador com as mães, especialmente quando o objetivo é criar uma conexão genética com ambas as famílias. Neste caso, o doador pode ser um parente masculino da parceira que não vai doar os óvulos, como um irmão ou primo.

Outra alternativa é optar por um doador anônimo de um banco de esperma, garantindo privacidade e anonimato. Bancos de esperma geralmente oferecem informações detalhadas sobre o perfil genético, histórico de saúde e características físicas do doador. Desta forma, é possível que o casal escolha alguém compatível com seus critérios e expectativas.

Além dos fatores biológicos, é essencial refletir sobre os impactos emocionais da escolha, tanto na relação do casal quanto na vida futura da criança. Conversas abertas sobre os anseios e as implicações de incluir um doador no processo podem ajudar a evitar conflitos no futuro.

Contar com o apoio de especialistas, como médicos e psicólogos também é fundamental nesse momento. Consultas com psicólogos focados em reprodução assistida ajudam a lidar com as questões emocionais, proporcionando mais segurança para as mães e um ambiente acolhedor para a criança 

Aspectos emocionais e legais da co-maternidade

A co-maternidade é uma jornada complexa que envolve tanto aspectos emocionais quanto legais. A conexão entre as mães é fundamental para o bem-estar da criança e das mulheres envolvidas na maternidade, mas é igualmente importante garantir que os direitos de ambas sejam respeitados no processo legal.

Vínculo emocional durante a maternidade compartilhada

A conexão emocional entre as mães é fundamental para o sucesso da maternidade compartilhada. Desde a coleta de óvulos até a fertilização in vitro, a transferência embrionária e a confirmação da gravidez, é essencial que o processo seja vivido de forma conjunta. Esse envolvimento mútuo, especialmente durante a gestação, fortalece o vínculo entre as mães e as ajuda a se sentirem igualmente integradas na jornada.

Assim, a maternidade compartilhada cria um laço emocional profundo, proporcionando uma experiência única e enriquecedora para ambas as mulheres. Esse vínculo é essencial para o bem-estar emocional das mães e contribui para o desenvolvimento saudável do bebê, garantindo um ambiente seguro e afetuoso desde a gestação.

Direitos e responsabilidades legais das mães

No Brasil, a legislação favorece a maternidade compartilhada permitindo o reconhecimento legal de ambas as mães como responsáveis pela criança, desde que o processo seja conduzido adequadamente. A mãe gestante tem o direito de registrar o bebê, mas para incluir o nome da outra mãe no registro de nascimento, é necessário fazer uma solicitação formal.

O provimento 63/2017 do Conselho Nacional de Justiça prevê a formalização do registro em casos de tratamento de Reprodução Assistida desde que sejam apresentados documentos fornecidos pela clínica de fertilização.

Esse suporte assegura a correta aplicação da lei, prevenindo complicações e proporcionando segurança jurídica às famílias, fortalecendo a proteção e os direitos de todos os envolvidos.

Desafios legais em diferentes estados 

Embora o Brasil tenha um sistema relativamente progressivo em termos de reconhecimento legal para a maternidade compartilhada, desafios ainda existem. Em alguns estados ou cidades, o processo pode ser mais demorado ou complicado devido a interpretações locais sobre as leis de filiação. Além disso, alguns cartórios podem ter mais resistência em aceitar o registro de duas mães sem uma ordem judicial, exigindo um processo legal adicional.

Escolhendo a clínica certa: acolhimento LGBTQIAPN+

Ao buscar uma clínica de Reprodução Assistida, é fundamental procurar aquelas que se destacam pelo acolhimento de casais LGBTQIAPN+. Nesse sentido, a dica é pesquisar instituições que tenham políticas inclusivas e profissionais capacitados para atender às demandas específicas de cada casal. Outro caminho é conversar com pessoas que já tiveram experiências positivas em serviços de medicina reprodutiva.

Vale ressaltar que muitas clínicas brasileiras já implementaram iniciativas para atender melhor casais homoafetivos e pessoas LGBTQIAPN+. Entre elas estão o uso de linguagem inclusiva, equipes capacitadas para acolhimento e estruturas que incentivam a participação de ambas as mães ou pais no processo.

Além disso, é essencial contar com suporte personalizado para garantir que as necessidades emocionais e médicas sejam respeitadas e atendidas. Assim, o ideal é procurar serviços  com atendimento humanizado e comunicação clara proporcionando conforto e acolhimento,  como a Nilo Frantz Medicina Reprodutiva. 

A  clínica oferece um ambiente seguro, inclusivo e livre de julgamentos, onde as pessoas LGBTQIAPN+  encontram o suporte necessário para iniciar sua jornada em direção à parentalidade.

Crianças com duas mães: desafios e inclusão

As famílias com crianças que têm duas mães ainda enfrentam muitos desafios no que se refere à inclusão, além do acolhimento em instituições educacionais. 

Por isso, é fundamental que os pais comuniquem claramente a situação familiar na escola e acompanhem o uso correto dos documentos da criança, garantindo o respeito à co-maternidade. Escolher escolas e ambientes educacionais com políticas inclusivas é um passo importante para evitar situações de discriminação.

Representação na escola e nos documentos

Como se sabe, nem todos os ambientes estão preparados para reconhecer ou respeitar plenamente a co-maternidade. Desta forma, para garantir o bem-estar da criança, é essencial seguir estratégias proativas. 

Adotar uma abordagem assertiva e inclusiva é fundamental para proteger os direitos da criança, promovendo um ambiente acolhedor onde ela possa crescer com orgulho de sua família.

Veja algumas dicas para lidar com ambientes que podem não reconhecer a co-maternidade

  1. Comunicação aberta na escola: Apresente a realidade familiar à equipe escolar no início do ano letivo. Isso ajuda a evitar equívocos e garante que a instituição esteja ciente da dinâmica familiar. Explique a importância de respeitar a dupla maternidade em eventos escolares, documentos e interações.
  2. Preparação da criança: Ensine a criança a responder perguntas sobre sua família com confiança, reforçando a normalidade e o amor que existem em sua estrutura familiar.
  3. Rede de apoio: Conecte-se com outras famílias LGBTQIAPN+ ou grupos de apoio locais. Isso cria um espaço seguro para compartilhar experiências e aprender com desafios semelhantes.
  4. Orientação legal: Garanta que todos os documentos da criança reflitam os nomes de ambas as mães. Se houver resistência de instituições, busque orientação jurídica para assegurar o cumprimento da legislação.

Preparação para enfrentar preconceitos

Infelizmente, famílias formadas por duas mães podem enfrentar preconceitos em diferentes situações. Uma conversa clara e aberta é essencial para preparar tanto os pais quanto as crianças. Incentive o diálogo em casa, promovendo a autoestima da criança e esclarecendo possíveis dúvidas sobre sua família. 

Construir redes de apoio, com outras famílias LGBTQIAPN+ ou com profissionais especializados, pode ser vital para enfrentar desafios e criar um ambiente de inclusão e afeto.

Inicie sua jornada de maternidade compartilhada com o apoio da clínica Nilo Frantz. Agende uma consulta e conheça todos os tratamentos disponíveis. 

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