Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais comum o desejo de engravidar em fases mais maduras da vida. Muitas mulheres têm adiado a maternidade por razões profissionais, pessoais ou relacionamentos, e optado por ter filhos após os 35 anos. Diante desse novo cenário, cresce também a importância da preparação para a gravidez tardia, fundamental para garantir uma gestação mais segura, saudável e tranquila.
É importante esclarecer que as mulheres já nascem com um número finito de óvulos que naturalmente vai se esgotando a partir dos 35 anos até chegar à menopausa. Desta forma, com o avanço da idade, a baixa reserva ovariana e a má qualidade dos óvulos aumentam o risco de abortos, anomalias genéticas e complicações na gestação.
No entanto, apesar dos desafios, engravidar após os 40 é possível desde que haja planejamento e acompanhamento médico adequado. Neste texto, você vai saber sobre os cuidados, os riscos da gravidez tardia e os tratamentos disponíveis da medicina reprodutiva para quem deseja ser mãe após os 40 anos.
Boa leitura!
O que é considerado gravidez tardia?
A gravidez tardia é considerada aquela que ocorre a partir dos 35 anos ou mais, pois é a partir desta fase que começam a surgir mudanças significativas na fertilidade feminina.
Isso ocorre porque com o avanço da idade há uma redução natural na reserva ovariana e uma queda na qualidade dos óvulos, o que dificulta a concepção espontânea. Ao mesmo tempo, o risco de complicações na gravidez e a chance de doenças cromossômicas se tornam mais elevadas.
Entretanto, apesar das adversidades dessa fase, engravidar após os 40 é possível e pode ser seguro, desde que haja planejamento e acompanhamento médico especializado.
De acordo com relatório do Ministério da Saúde, divulgado pela SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida), o número de mulheres que engravidaram após os 35 cresceu 84% nos últimos 10 anos. Já os partos acima de 40 anos representaram entre 2% e 5% do total do país. Esses dados refletem uma tendência crescente de adiamento da maternidade, impulsionada por fatores como a busca por estabilidade profissional, realização pessoal e mudanças no estilo de vida.
Desafios da gravidez tardia: o que esperar?
Como vimos, existem chances de engravidar após os 40, mas é importante estar ciente dos obstáculos que acompanham a maternidade em idades mais avançadas. O primeiro e mais relevante deles está ligado à fertilidade feminina, que tende a diminuir com o passar do tempo.
A partir dos 35 anos, a reserva ovariana, ou seja, a quantidade de óvulos disponíveis nos ovários, começa a cair de forma mais acelerada. Além disso, há uma redução na qualidade dos óvulos, o que pode dificultar a gestação e o desenvolvimento saudável do embrião.
Outro fator importante é o aumento das taxas de aborto espontâneo, que ocorrem com maior frequência em mulheres acima dos 35 anos devido a alterações genéticas nos embriões. Além disso, a gravidez tardia está associada a maior incidência de complicações gestacionais, como pressão alta, diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e parto prematuro.
Há também uma relação direta entre idade materna avançada e o aumento das cesarianas. Isso acontece por diversos motivos: maior cautela médica diante dos riscos, dificuldades no trabalho de parto e o próprio histórico de saúde da gestante.
Como vimos, os desafios não são poucos, mas estar com um médico especializado ao lado faz toda a diferença. Desta forma é possível contar com as técnicas da medicina reprodutiva para realizar o sonho da maternidade com tranquilidade, mesmo depois dos 40.
Exames essenciais para quem deseja engravidar após os 40
A preparação para uma gravidez tardia exige uma avaliação médica completa para entender como está a saúde reprodutiva da mulher e identificar possíveis obstáculos à gestação. A seguir, conheça os principais exames indicados nessa fase:
- Hormônio Antimülleriano (AMH): é um dos exames mais importantes para avaliar a reserva ovariana. Níveis baixos de AMH indicam uma quantidade reduzida de óvulos disponíveis, o que pode impactar nas chances de gravidez.
- FSH e LH: esses hormônios atuam na regulação do ciclo menstruale na ovulação. Seus níveis ajudam a avaliar a função ovariana e podem sinalizar se há falhas na produção hormonal.
- Ultrassonografia transvaginal: além de observar o útero e os ovários, esse exame permite contar os folículos antrais, um dado que também contribui para estimar a reserva ovariana. Ele é útil para detectar miomas, cistos e outras alterações estruturais.
- Histerossalpingografia: exame de imagem que avalia a permeabilidade das trompas de falópio. Tubas obstruídas podem impedir que o óvulo encontre o espermatozoide, dificultando a concepção.
- Exames gerais de saúde: incluem glicemia, colesterol, pressão arterial, função tireoidiana, entre outros. Essas avaliações são fundamentais para verificar condições como diabetes, hipertensão ou disfunções hormonais, que podem impactar a gestação.
Fazer esses exames antes de iniciar as tentativas é essencial para que o médico indique o melhor caminho. Desta forma, o planejamento e o diagnóstico precoce aumentam significativamente as chances de uma gravidez segura.
Como se preparar para a gravidez tardia?
Engravidar com uma idade avançada exige mais do que o desejo de ser mãe: requer cuidados com a saúde e mudanças no estilo de vida. Sendo assim, existem algumas ações que podem ajudar na preparação da gravidez tardia favorecendo a fertilidade e o bem-estar da gestante. Confira:
- Adote uma alimentação equilibrada: priorize alimentos naturais, ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes. Nutrientes como ácido fólico, ômega 3, ferro, vitamina D e zinco são fundamentais para a saúde reprodutiva e devem ser incluídos na rotina, sempre com orientação médica.
- Pratique atividades físicas moderadas: manter-se ativa melhora a circulação, regula os hormônios, ajuda a controlar o peso e contribui para o equilíbrio emocional. Caminhadas, yoga, pilates e exercícios leves são ótimas opções.
- Durma bem e controle o estresse: noites mal dormidas e níveis elevados de estresse afetam diretamente a produção hormonal e a ovulação. Técnicas de respiração, meditação, terapias e pausas no dia a dia são aliadas importantes nesse processo.
- Evite o tabagismo e reduza o consumo de álcool: o cigarro compromete a qualidade dos óvulos e acelera o envelhecimento ovariano, enquanto o álcool em excesso pode afetar a fertilidade e a saúde do bebê. Não fumar e a diminuir o consumo de bebidas alcoólicas são atitudes essenciais.
- Tenha acompanhamento médico frequente: fazer consultas regulares com ginecologista e endocrinologista ajuda a identificar possíveis alterações hormonais, acompanhar a reserva ovariana e garantir que tudo esteja em ordem para iniciar a gestação com segurança.
Tratamentos para aumentar as chances de engravidar após os 40
Engravidar depois dos 40 pode ser um desafio para muitas mulheres, mas com os avanços da medicina reprodutiva, é possível aumentar significativamente as chances de realizar esse sonho. Atualmente, existem diversos tratamentos que auxiliam na fertilidade após esta idade, como a inseminação artificial, a fertilização in vitro (FIV), o congelamento de óvulos e a ovodoação..
No entanto, cada caso é único e por isso, a escolha do tratamento deve ser feita com base em uma avaliação médica detalhada. Nesse sentido, é preciso levar em conta a saúde da mulher, seus exames hormonais e suas condições reprodutivas. Assim, com acompanhamento especializado, é possível encontrar o caminho mais adequado para alcançar a gravidez tão sonhada.
Confira os tratamentos:
Inseminação Artificial (IIU)
A Inseminação Artificial é ideal para casais que não apresentam problemas graves de infertilidade, mas que têm dificuldade de ovulação, baixa quantidade ou motilidade do espermatozoide).
Nestes casos, para facilitar o encontro do espermatozoide com o óvulo, insere-se o sêmen diretamente no colo do útero e a fecundação ocorre dentro do corpo da mulher. Porém, é necessário realizar uma avaliação das trompas, para garantir que o espermatozoide encontre e fecunde o óvulo.
Fertilização In Vitro (FIV)
Recomenda-se a Fertilização In Vitro para casos de infertilidade mais graves, como homens com oligospermia ou teratozoospermia, pacientes que tenham problemas nas trompas, sequelas de infecções, endometriose, entre outros.
Nesse sentido, a FIV começa com a coleta dos gametas feminino e masculino.
Para isso, as mulheres passam por um processo de estímulo da ovulação, através de medicamentos hormonais e, posteriormente, ocorre a coleta dos óvulos. Já nos homens, obtém-se a amostra de espermatozoides através de masturbação ou, se necessário, a partir de uma punção testicular.
A próxima etapa consiste na fecundação. Nesse sentido, unem-se óvulo e espermatozoides em laboratório, onde acontece a fertilização, e assim, a formação do embrião. Após alguns dias de cultivo em estufa, o embrião chega à fase de blastocisto, e é transferido ao útero.
Além disso, existe um método mais moderno chamado Injeção Intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), que tem as mesmas etapas de uma FIV tradicional, com a diferença de que a fecundação não é feita de forma espontânea em laboratório. Na FIV com ICSI, os espermatozoides são selecionados e injetados, um a um, dentro de cada um dos óvulos, facilitando a fecundação. Nestes casos, a fertilização não ocorre espontaneamente, e há total interferência do embriologista.
Chances de sucesso da FIV
Já vimos anteriormente que com o avanço da idade, a mulher vai perdendo a quantidade e a qualidade de seus óvulos. Por esta razão, a chance de sucesso de uma Fertilização in Vitro, com óvulos próprios, também cai consideravelmente à medida que os anos passam.
Vale ressaltar ainda que estudos do Conselho Federal de Medicina (CFM) apontam que a partir dos 45 anos as chances de sucesso no tratamento com óvulos próprios é de menos de 1%. Já aos 47, a possibilidade de se ter embriões aneuploides aproxima-se de 100%.
Por esta razão, a medicina reprodutiva indica o tratamento de congelamento de óvulos para aquelas mulheres que já sabem que querem postergar a maternidade. Contudo, para aquelas que não planejaram a gravidez anteriormente, mas já estão com a idade avançada, a indicação é a ovodoação.
Congelamento de óvulos
O congelamento de óvulos, também chamado de criopreservação, é a técnica de preservação dos óvulos jovens em nitrogênio líquido, por meio de vitrificação. Nesse sentido, é um tratamento que permite adiar a possibilidade de ter filhos.
Vale lembrar que as mulheres entre 20 a 30 anos estão biologicamente no auge da fertilidade. Portanto, o ideal é fazer o congelamento de óvulos nesse período, pois a medida que a idade avança, diminui a quantidade e a qualidade dos óvulos produzidos pela mulher. Sendo assim, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRA), a idade limite para o congelamento de óvulos é de 35 anos.
Ovodoação
A ovodoação é uma alternativa que ajuda mulheres a realizarem o sonho da gravidez através de óvulos jovens de outra paciente. Nesse sentido, é uma opção no caso de mulheres com diminuição da reserva ovariana causada por idade avançada, falência ovariana precoce, tratamentos oncológicos e doenças genéticas.
Desta forma, conforme a Resolução nº 2.168/2017, do Conselho Federal de Medicina (CFM), permite-se a doação voluntária dos óvulos. Além disso, também é aceita a doação compartilhada, em casos que doadora e receptora estejam participando de tratamentos de reprodução assistida. Portanto, podem compartilhar tanto o material biológico quanto os custos financeiros que envolvem o procedimento.
Contudo, é importante esclarecer também que, no Brasil, este processo é realizado pelas clínicas de reprodução humana e ocorre de forma totalmente anônima e sigilosa.
Quais são os riscos da gravidez tardia e como minimizá-los?
A gravidez tardia pode ser perfeitamente possível, mas exige cuidados redobrados devido ao aumento de certos riscos que podem afetar tanto a saúde da mãe quanto a do bebê. Conhecer esses riscos e contar com um acompanhamento médico adequado é fundamental para garantir uma gestação saudável.
Principais riscos da gravidez tardia:
- Aumento de pressão alta e diabetes gestacional: Mulheres acima dos 40 têm maior propensão a desenvolver hipertensão e alterações nos níveis de glicose durante a gestação.
- Maior incidência de prematuridade e complicações no parto: O risco de parto prematuro, cesárea de emergência e outras complicações obstétricas tende a ser mais elevado.
- Risco aumentado de anomalias cromossômicas: A probabilidade de alterações genéticas, como a síndrome de Down, é maior com o avanço da idade materna.
Como minimizar esses riscos?
Um pré-natal rigoroso, com exames para gravidez tardia e acompanhamento especializado, é essencial para identificar precocemente qualquer alteração e garantir intervenções eficazes. A adoção de hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, prática de atividades físicas leves e controle de doenças crônicas, também contribui para uma gestação mais segura.
Além disso, exames genéticos e avaliações específicas podem ajudar na detecção precoce de possíveis anomalias, permitindo decisões informadas e seguras.
Com o suporte adequado, é possível viver uma gravidez tranquila mesmo após os 40 anos.
Se você quer se inteirar mais sobre o assunto, leia mais em Quando a gravidez é considerada tardia?
Conclusão
Como mencionamos, a gravidez tardia é cada vez mais comum e, embora traga dificuldades, ela pode ser segura e bem-sucedida quando há planejamento e cuidados adequados. Nesse sentido, com a medicina reprodutiva muitas mulheres conseguem realizar o sonho da maternidade mesmo após os 35 ou 40 anos.
Desta forma, realizar exames prévios, adotar hábitos de vida saudáveis e manter um acompanhamento médico regular são passos essenciais nesse processo. Além disso, existem diversos tratamentos que podem aumentar significativamente as chances de engravidar, como a fertilização in vitro (FIV) e o uso de óvulos doados, entre outros.
Se você deseja ser mãe após os 40, o primeiro passo é buscar um especialista em fertilidade para uma avaliação completa. Com orientação médica e cuidados personalizados, é possível construir esse caminho com mais confiança e leveza.