No momento em que decidem engravidar, cerca de 20% dos casais se deparam com alguma dificuldade. Destes, em pelo menos a metade há o envolvimento masculino, seja de forma isolada, seja em associação com alguma alteração feminina. Independente da causa, o fato é que está aumentando o número de casais que necessitam tratamento para ter filhos.
No mundo inteiro a fertilidade masculina é avaliada através do exame Espermograma. Embora às vezes uma história de nexo causal seja evidente, na maioria não é encontrada explicação para o exame alterado. Em 1992, pesquisadores dinamarqueses publicaram uma pesquisa com resultados preocupantes. Verificou-se significativo declínio na qualidade seminal ao longo das últimas 5 décadas. Após a análise de 15 mil homens, foi observado que o volume médio ejaculado passara de 3.40 ml para 2.7 ml e a concentração (número de espermatozoides por ml) diminuira de 113 para 66 milhões. Alguns autores, impressionados, chegaram a publicar artigos em tom alarmista, questionando se estaríamos caminhando para a extinção.
Outros levantamentos, no entanto, revelaram evidências não tão nefastas. Mas, dados da Organização Mundial da Saúde mostram que os homens estão sim produzindo sêmen de pior qualidade. Por que muitos homens, mesmo jovens, têm apresentado este problema?
Uma alimentação inadequada, a crescente poluição ambiental, o uso de drogas (lícitas e ilícitas) e o contato com produtos químicos como tintas e pesticidas são alguns dos fatores identificados. No entanto, um comportamento pouco divulgado provavelmente seja o maior responsável.
Sabe-se que os testículos, para produzirem espermatozóides, necessitam estar 3 a 4ºC abaixo da temperatura corporal. Assim, enquanto o nosso corpo se encontra a 36ºC, os testículos deveriam estar a 32ºC. É por isto que a anatomia e a fisiologia evolutiva fizeram com que ficassem pendentes na bolsa escrotal. Usar cuecas justas, bem como permanecer longos períodos sentado para estudar ou trabalhar fazem com que a função espermática seja afetada de forma irreversível. Submetidas a temperaturas mais elevadas, acabam as células-tronco testiculares por perder a capacidade de gerar espermatozóides normais. Esta realidade vem sendo potencializada pela tendência de adiar o momento de se ter filhos. Passamos um período cada vez maior da nossa vida reprodutiva expostos a fatores nocivos. Sem uma mudança nos hábitos não entraremos em extinção, mas teremos cada vez mais homens que não engravidam… as suas mulheres.
Texto: Dr. Marcos Höher