A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é a endocrinopatia mais comum em mulheres em idade reprodutiva. Estima-se que 5-10% desta população tenham este diagnóstico. O critério diagnóstico mais utilizado esta baseado num consenso entre especialistas realizado na cidade de Rotterdam em 2003, conhecido como “Consenso de Rotterdam”. A paciente deve apresentar pelo menos dois achados dos três descritos: oligo-anovulação, hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial e/ou ovários com aspecto policístico ao ultrassom.
O quadro clínico é diverso, aproximadamente 75% das pacientes apresentam alteração menstrual (oligo-amenorréia) e o hirsutismo é a manifestação de hiperandrogenismo mais comum (60%). A SOP é responsável por 80% dos casos de infertilidade por oligo-anovulação, que corresponde a aproximadamente 25% das causas femininas de infertilidade. A obesidade é um achado muito frequente e a resistência insulínica está presente em, aproximadamente, 70% das pacientes, independente do peso.
O tratamento é direcionado a queixa e achados da paciente. Consiste basicamente no seguinte: regularizar a menstruação e proteger o endométrio da estimulação prolongada pelo estrogênio, sem a contraposição da progesterona; tratar o hiperandrogenismo e suas manifestações; tratar a infertilidade; tratar o distúrbio metabólico. Independente da queixa, a paciente deve ser sempre estimulada a ter uma alimentação adequada e a prática de exercícios físicos, com objetivo de manter o peso o mais próximo do ideal. O anticoncepcional hormonal oral (ACO) de baixa dose e baixo efeito androgênico é a primeira escolha para regularização do ciclo menstrual e funciona também nas queixas de hiperandrogenismo leve. Nas manifestações hiperandrogênicas mais severas, podemos associar medicações antiandrogênicas mais potentes, como o Acetato de Ciproterona ou a Espironolactona.
O tratamento da infertilidade deve ser sempre precedido por uma investigação completa do casal para afastarmos outras causas infertilidade. A primeira escolha no tratamento da infertilidade por oligo-anovulação por SOP continua sendo o Citrato de Clomifeno (CC) até a dose máxima de 150 mg, sempre sob controle ecográfico. Aproximadamente 30% das pacientes com SOP não respondem ao CC. As outras opções consistem no uso de gonadotrofinas, atentando ao risco maior para o desenvolvimento da síndrome de hiperestímulo ovariano; o drilling ovariano (cauterização da capsula do ovário), por videolaparoscopia; a fertilização in vitro (FIV) ou maturação in vitro dos oócitos (IVM).
Nas pacientes com perfil metabólico alterado e naquelas resistentes aos tratamentos de infertilidade, está indicado o uso de Metformina, droga sensibilizadora da insulina. Em resumo, a paciente com SOP pode apresentar um leque variado de manifestações e o tratamento deve ser focado nas queixas e achados principais e sempre no estilo de vida.
Texto: Dra. Simone Mattiello.