Você sabia que homem trans pode engravidar? O primeiro caso foi registrado nos Estados Unidos, em 2008, e desde então a gestação transexual masculina tem se tornado cada vez mais comum.
No texto a seguir explicamos todas as dúvidas sobre o assunto. Assim, saberemos como um homem trans pode engravidar, se há risco ou dificuldade para uma gestação e se é possível amamentar o bebê.
O que é ser transgênero?
Antes de mais nada, é importante explicar que uma pessoa transgênero tem uma identidade de gênero diferente do sexo designado no momento do nascimento. Ou seja, ela não se identifica com o gênero ao qual foi designado, baseado em seu sexo biológico.
Sendo assim, a pessoa trans pode ser tanto uma trans-binária, como um homem trans ou mulher trans. Da mesma forma, pode ser uma pessoa não-binária (como os gender fluid), aquela que não se identifica com nenhum dos gêneros ou, então, se identifica com ambos.
Vale ainda esclarecer que a identidade de gênero é diferente da sexualidade. Assim, pessoas trans podem ter qualquer orientação sexual, incluindo heterossexual, homossexual, bissexual e assexual.
Homem trans pode engravidar?
Os homens trans são pessoas que nasceram com os órgãos reprodutores femininos. Porém, ao longo do tempo, passam a se reconhecer como pertencentes do gênero masculino.
Desta forma, uma pessoa trans pode passar por uma cirurgia de redesignação sexual, ou tratamentos hormonais.
No caso do homem trans é possível retirar as mamas e os órgãos femininos. No entanto, uma vez que se mantém os ovários e o útero, ele tem a possibilidade de engravidar e gerar um filho.
Primeiro Caso de Gravidez em Homens Trans
O primeiro homem transexual a engravidar foi o americano Thomas Beatie que em 2008, após descobrir que sua esposa era estéril, decidiu que iria gestar o filho do casal. Nesse sentido, ele recorreu a um banco de sêmen e com a ajuda da técnica de inseminação artificial conseguiu engravidar.
Isto foi possível, pois Beatie passou por uma mastectomia (retirada dos seios), mas manteve seu útero e ovários. Desta forma, para poder engravidar, ele parou de tomar as doses de testosterona e assim voltou a ovular naturalmente.
Assim, mesmo sendo homem trans, ele teve a possibilidade de engravidar e gerar um bebê.
Homem trans pode engravidar alguém?
Sim, um homem trans pode engravidar alguém enquanto seus óvulos podem ser utilizados para gerar um embrião que será gerado por outra pessoa. Para isso é preciso utilizar a técnica de Fertilização In Vitro para que a gestação aconteça. Desta forma podemos considerar que ele participou ativamente da gravidez.
O homem trans pode engravidar tomando hormônio?
Naqueles que possuem altos níveis de testosterona, é necessário baixar os níveis hormonais para o típico feminino por um período não especificado ainda, mas calculado entre 03 a 06 meses de interrupção.
A partir disso, a gravidez e os procedimentos do parto são tipicamente os mesmos que os feitos em qualquer outra pessoa grávida.
Qual tamanho mínimo do útero para homem trans engravidar?
Ao fazer o tratamento com o hormônio masculino, existe uma alteração nos órgãos reprodutivos femininos, que acabam atrofiando. No entanto, ao parar com a medicação, em alguns meses o útero e ovários voltam ao tamanho normal durante a idade fértil.
Como o homem trans pode engravidar?
Como já vimos, homens trans podem engravidar naturalmente, desde que possuam o aparelho reprodutor feminino. No entanto, é necessário pausar o uso da testosterona antes e durante a gestação e a amamentação.
Nesse sentido, ao parar o tratamento hormonal os sinais masculinos irão regredir e dessa forma, voltará o ciclo menstrual, a ovulação e a possibilidade de engravidar.
Preservando a Fertilidade da Pessoa Trans
Dependendo do tratamento realizado pela pessoa trans, a capacidade reprodutiva é geralmente impactada. Desta maneira, seja pelas terapias hormonais ou cirurgias para retirada de ovários, útero e testículos, a pessoa trans perde a possibilidade de gerar filhos biológicos.
Entretanto, há possibilidade de preservar a fertilidade antes que o processo de redesignação sexual inicie. Nesse sentido, o congelamento de gametas e embriões é o melhor caminho.
Também chamado de criopreservação, essa técnica preserva óvulos, espermatozoides e embriões por meio de vitrificação, impedindo a formação de cristais de gelo que danificam células reprodutoras. Dessa forma, o material congelado fica armazenado em um cilindro de nitrogênio líquido e são mantidos a −196º, por tempo indeterminado.
Possibilidades de Engravidar Naturalmente para Pessoas Trans
Existem possibilidades para as pessoas trans engravidar naturalmente, contanto que possuam os órgãos do aparelho reprodutor. Desta maneira, é necessário que o homem trans tenha o útero e os ovários, da mesma forma que a mulher trans precisa ter testículos.
No entanto, para que uma pessoa trans possa conceber um bebê naturalmente será preciso interromper o uso dos hormônios. Isto é necessário para que o organismo volte a produzir os gametas feminino ou masculino.
Um homem trans pode engravidar uma mulher cis?
Quando o casal é formado por homem trans e mulher cis (identidade de gênero idêntica ao que foi atribuído no nascimento), o tratamento de Reprodução Assistida é igual ao do casal homoafetivo feminino. Nesse sentido, deve-se utilizar óvulos do homem trans que serão fecundados com esperma doado de banco de sêmen e transferido ao útero da parceira.
Caso o homem trans deseje usar seus óvulos para engravidar em algum momento da vida ou ainda doar os gametas, recomenda-se o congelamento de óvulos. O ideal é que isso ocorra, se possível, antes mesmo de iniciar a hormonização.
Uma mulher cis pode engravidar um homem trans?
Sim, é possível. Neste caso, com a Fertilização In Vitro, utilizam-se os óvulos da mulher cis, fecundados com esperma de banco de sêmen. Depois dessa etapa do tratamento, o embrião é transferido ao útero do homem trans.
Contudo, ainda assim, é importante que o homem trans pare totalmente de tomar a medicação para que possa gestar com segurança o bebê.
Uma mulher trans pode engravidar um homem trans?
Sim, uma mulher trans pode engravidar um homem trans se os órgãos reprodutivos do casal foram mantidos. Nestes casos a gestação pode ser natural ou se utilizar das técnicas de Reprodução Assistida como a Inseminação Artificial ou Fertilização In Vitro.
Assim, o esperma da mulher trans pode ser introduzido diretamente na cavidade uterina do homem trans ou fecundado em laboratório com os óvulos do parceiro. Se for FIV, depois do embrião formado, ele é transferido para a cavidade uterina do transgênero masculino.
Um homem cis pode engravidar um homem trans?
Sim, um homem cisgênero (que se identifica com sexo biológico em que nasceu) pode engravidar um homem trans, desde que o parceiro tenha o sistema reprodutor preservado.
Como é a gravidez do homem trans?
O processo de gravidez, assim como o parto de um homem trans é igual ao da mulher cisgênero. Nesse sentido, na maioria das vezes, não é de alto risco e nem precisa de cuidado especial.
Tratamentos de Reprodução Assistida para Pessoas Trans
Como vimos, muitos casais formados por pessoas trans necessitam da ajuda das técnicas de reprodução humana quando decidem ter um filho. Nesse sentido, os tratamentos variam de acordo com a configuração familiar, se apresentam sistema reprodutivo preservado e claro desejo das pessoas envolvidas.
Inseminação Artificial para Pessoas Trans
A inseminação artificial (IA) é um dos tratamentos de baixa complexidade indicado para ajudar pessoas trans a terem filhos. Além disso, é muito usada em casos de infertilidade masculina , feminina sem causa aparente, com taxa de sucesso em torno de 15% a 20%.
Também chamada de inseminação intrauterina (IIU), o tratamento consiste na introdução dos espermatozoides diretamente dentro da cavidade uterina. Nesse sentido, o objetivo de facilitar a fecundação do óvulo pelos espermatozoides nos tubos uterinos.
Fertilização In Vitro (FIV) para Pessoas Trans
A Fertilização In Vitro (FIV) para pessoas trans segue os mesmos passos e protocolos que qualquer outra FIV. Nesse sentido, a técnica de alta complexidade promove o encontro do óvulo e do espermatozoide em laboratório, facilitando que ocorra a fecundação.
Para isso, após indução ovariana os óvulos são coletados através da punção folicular. Além disso, é realizada a coleta de sêmen por masturbação ou biópsia testicular. Quando necessário é possível recorrer a óvulos e/ou semem doados.
Desta forma, os embriões formados em ambiente laboratorial são cultivados, selecionados e posteriormente transferidos ao útero onde serão gestados. Além disso, em alguns casos o útero solidário pode ajudar pessoas trans, casais homoafetivos , pais e mães solos chegarem a gravidez.
Nesse sentido, com taxas de sucesso entre 20% e 50%, a FIV vem evoluindo muito e ajudando milhares de pessoas a ter um filho.
Homem trans pode amamentar?
Existem várias dúvidas em relação à amamentação de um homem trans. É possível amamentar? A resposta é sim. Assim como o homem trans pode gerar um filho, ele também consegue amamentar. Veja mais detalhes abaixo:
O seio do homem trans cresce para amamentar?
Sim. Se ele tiver mantido as mamas, o seio vai crescer como em qualquer outra gestação. Assim, o homem trans poderá amamentar seu filho biológico sem maiores problemas.
O homem trans mastectomizado pode amamentar?
Caso o transexual masculino seja mastectomizado não poderá amamentar, já que não produzirá leite por não ter mais as mamas. No entanto, é possível buscar outras formas de amamentação, assim como acontece com algumas mulheres cis ou trans.
Quanto tempo depois de engravidar o homem trans pode voltar a tomar hormônio?
Se o homem trans pretende amamentar, ele só poderá voltar a usar o hormônio masculino depois do desmame. Caso, ele não for amamentar, já é possível retornar à medicação após o parto. Porém, em ambos os casos, é importante pedir ajuda e orientação médica.
Registro da Criança por Pessoas Trans
Uma das preocupações frequentes de pessoas trans que querem ter filhos é se o registro civil da criança vai respeitar a identidade de gênero dos pais. Nesse sentido, não há na Constituição ou nas leis federais nenhuma norma expressa no tocante ao direito à identidade de gênero.
Entretanto, a proteção jurídica às pessoas trans passou a ser garantida judicialmente.
Veja alguns exemplos:
Em 2018, na repercussão geral (RE 670422), a Corte Suprema definiu teses em relação ao direito à identidade de gênero da pessoa trans. Desta forma, orientou, entre outros, que o transgênero tem direito fundamental à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no registro civil.
Cumprindo a determinação do STF, o Conselho Nacional de Justiça editou o Provimento nº 73/2018, que regulamenta a alteração de prenome e gênero diretamente no registro civil das pessoas naturais, maiores de 18 anos. Desta forma, uma vez averbada a alteração do prenome e do gênero no registro de nascimento da pessoa trans, a modificação deve constar no registro dos filhos.
Por decisão do STF, a transfobia deve ser enquadrada como crime de racismo;
Depois de engravidar o homem trans tem direito a licença paternidade?
A realidade é que a legislação brasileira, quando foi criada, não considerou, de maneira adequada, a diversidade das novas famílias. Sendo assim, o tema ainda é bastante discutido, pois as leis não foram pensadas para serem aplicadas entre pessoas homossexuais e de transgêneros.
No entanto, já há jurisprudência de igualar os direitos trabalhistas a todas as pessoas, independente da sexualidade e identidade de gênero. Desta forma, muitos juízes já entendem que ser homossexual ou trans não tira o direito de usufruir das leis. Assim, transexuais masculinos e gays já estão conseguindo a licença paternidade como os heterossexuais.
Além disso, muitas empresas têm concedido a licença-paternidade igualmente para todos. No entanto, se o casal tiver qualquer problema nesse sentido, o ideal é que procure por um advogado a fim de adotar medidas judiciais contra a discriminação.
Quanto tempo é a licença paternidade do homem trans?
A licença paternidade do homem trans é igual a dos homens cis. Nesse sentido, a legislação brasileira garante o afastamento de cinco dias. Contudo, o tempo pode se estender até 20 dias, caso a empresa esteja cadastrada no Programa Empresa Cidadã.
Entretanto, se o homem trans tiver sido a pessoa que engravidou, ele pode recorrer ao judiciário para conseguir a licença-paternidade de 180 dias. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu ganho de causa a um pai solteiro de gêmeos gerados por Fertilização In Vitro e barriga solidária.
Ele estava recorrendo da decisão do INSS que não queria dar a licença-paternidade de 6 meses. A decisão dos juízes, se baseou na Constituição e no Estatuto da Criança e Adolescente que equipara homens e mulheres na guarda dos filhos menores de idade.
Ainda, segundo os ministros, esta jurisprudência passa a legitimar as novas configurações da família, sempre com a finalidade de proteção integral da criança e do adolescente.
Apoio de Amigos e Família durante a Gravidez Trans
A experiência da gravidez trans é única, pois além dos medos e da ansiedade comuns a uma gravidez cis, a pessoa trans enfrenta outros desafios.
Desta forma, questões de identidade de gênero, saúde mental e física fazem da gravidez trans uma vivência desafiadora. Isto porque é preciso lidar com conflitos pessoais, mas também da sociedade.
Por isso, é muito importante a gestante trans contar com uma rede de apoio que inclui a família e os amigos. Afinal, dividir essa jornada com pessoas compreensivas e empáticas pode tornar essa vivência mais positiva.
Homem trans pode engravidar: veja o que diz o CFM
A boa notícia é que pessoas transgênero foram recentemente incluídas oficialmente na resolução do CFM n° 2.294 como beneficiárias da técnica de Reprodução Assistida. Veja abaixo o que diz a nova resolução:
II – PACIENTES DAS TÉCNICAS DE RA
- Todas as pessoas capazes que tenham solicitado o procedimento e cuja indicação não se afaste dos limites desta resolução podem ser receptoras das técnicas de RA, desde que os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente esclarecidos, conforme legislação vigente.
- É permitido o uso das técnicas de RA para heterossexuais, homoafetivos e transgêneros.
- É permitida a gestação compartilhada em união homoafetiva feminina. Considera-se gestação compartilhada a situação em que o embrião obtido a partir da fecundação do(s) oócito(s) de uma mulher é transferido para o útero de sua parceira.
Algumas questões importantes a serem consideradas para uma gravidez segura e saudável incluem:
- Apoio médico e emocional: É essencial contar com o apoio de profissionais de saúde que sejam respeitosos e sensíveis às questões de identidade de gênero e saúde reprodutiva. Além disso, o suporte emocional de familiares, amigos ou grupos de apoio pode ser fundamental.
- Gerenciamento hormonal: Caso a pessoa esteja em tratamento hormonal, é importante conversar com um profissional de saúde para determinar se é seguro continuar ou interromper temporariamente o tratamento durante a gravidez.
- Questões de identidade de gênero: A gravidez pode trazer à tona questões sobre a identidade de gênero da pessoa. É importante permitir-se explorar esses sentimentos e buscar apoio psicológico, se necessário.
- Preparação para o parto e pós-parto: Estar preparado para o parto e para as mudanças físicas e emocionais pós-parto é fundamental. Conversar com outros pais e buscar informações sobre parto e amamentação pode ser útil.
- Construção de uma rede de apoio: Construir uma rede de apoio sólida de pessoas compreensivas e respeitosas pode ajudar uma pessoa trans masculina a lidar com as complicações da gravidez.
Vale destacar que cada experiência é única, e o respeito pela identidade de gênero e a autonomia das pessoas trans masculinas são fundamentais em todo o processo. Buscar apoio médico, psicológico e social adequado é crucial para uma gravidez saudável para todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero.
Desafios da Gravidez Trans no Sistema de Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS), criado em 1988 e regulamentado pela Lei No 8.080 de 13 de setembro de 1990 trouxe a perspectiva da saúde integrada no país. Nesse sentido, passou a destacar o acesso à prevenção, promoção e assistência à saúde, de forma igual a todos, sem privilégios ou preconceitos.
Entretanto, sabemos que a discriminação, comum a grupos como a comunidade trans, tem prejudicado o direito amplo e igualitário à saúde. Isto ocorre tanto na rede de atenção básica como nos serviços especializados.
Dessa forma, um dos maiores desafios da gravidez trans é lutar contra o preconceito e a desinformação, principalmente dos profissionais que atuam na área da saúde. Afinal, o acolhimento e respeito à identidade de gênero é um direito inclusive garantido por lei.
A Importância do Acolhimento e Respeito à Identidade de Gênero
Como vimos, muitas dificuldades enfrentadas pela comunidade trans são causadas por preconceito e desinformação que levam aos desrespeito e a descriminação. E o pior, é que muitas vezes esse quadro já acontece dentro da própria família.
Viver em ambiente hostil em casa, na escola, no trabalho e na área da saúde pode isolar a pessoa trans e causar sérios problemas emocionais.
Nesse sentido, a informação é uma das principais ferramentas na luta por maior acolhimento e inclusão. Afinal, todas as pessoas merecem ser respeitadas nas suas individualidades,
Desta forma, pequenas atitudes já fazem muita diferença. Um bom exemplo é tratar a pessoa trans de acordo com o gênero com o qual se identifica, independente ao sexo biológico.
Assim, empregar os pronomes corretos ao falar com a pessoa já demonstra consideração e respeito.
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