“Cadeirante pode ter filhos?”. Essa é uma pergunta comum, afinal a condição de um cadeirante pode provocar dúvidas sobre a sua vida sexual e também sobre a sua fertilidade. Nesse sentido, algumas pessoas ainda se espantam em ver casais (com pelo menos um dos dois cadeirantes) com um filho no colo.
Entretanto, é importante esclarecer que a pessoa cadeirante pode ter filhos. Pois, apesar de estar em uma cadeira de rodas, a sexualidade e a fertilidade, tanto da mulher como do homem, muitas vezes se mantém preservada.
Por esta razão, no texto a seguir vamos falar sobre as possibilidades dos cadeirantes conseguirem gerar um bebê. E, também, explicar sobre o processo de gravidez em cada situação.
O que são cadeirantes?
Cadeirantes são pessoas que fazem uso constante de uma cadeira de rodas para se locomover. Segundo o último levantamento do IBGE, o Brasil tem pelo menos 45 milhões de cadeirantes que possuem algum tipo de deficiência física.
Nesse sentido, o cadeirante tem quadros e gravidades variáveis, de acordo com a causa e com o tipo de lesão que ocorreu. Sendo assim, a paralisia física pode ter surgido desde o nascimento, assim como ao longo da vida por meio de doenças ou acidentes.
Existem vários tipos e causas de deficiência física. Veja no quadro abaixo quais são as principais:
O que são pessoas com deficiência (PCD)?
A sigla PcD significa pessoa com deficiência, essa que pode ter origem de nascença ou adquirida durante a vida. Nesse sentido, é uma PcD quem tem limitação física, intelectual, visual ou auditiva. Além disso, se uma pessoa tiver mais de um tipo de deficiência, chamamos de deficiência múltipla.
Desta forma, a sigla começou a ter uso em 2006, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou a Convenção sobre dos Direitos da Pessoa com Deficiência das Nações Unidas.
Antes disso, usava-se a expressão “portador de deficiência”, que não é considerada adequada, pois destaca mais a deficiência do que a condição humana. Vale lembrar, também, que o termo “deficiente” vem caindo em desuso por ser considerado uma palavra pejorativa.
Por último, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 24% da população brasileira é PcD.
Sexualidade de cadeirantes: um assunto cheio de mitos
Muitos mitos cercam o mundo das pessoas com deficiência física, e um deles é em relação ao sexo. Nesse sentido, é importante esclarecer que apesar de terem uma característica biológica peculiar que leva a algumas dificuldades, os cadeirantes têm desejo sexual e podem fazer sexo. Por consequência, a pessoa cadeirante pode ter filhos.
Sendo assim, o preconceito está relacionado à crença de que o prazer está ligado exclusivamente ao corpo. No entanto, de acordo com os especialistas, o corpo é apenas um instrumento do prazer, pois o sexo começa na mente. Por esta razão, a vida sexual continua com algumas adaptações e diversas possibilidades, como a descoberta de novas zonas erógenas.
Confira, abaixo, alguns mitos e verdades sobre o assunto:
Pessoas com deficiência física são assexuais
Mito. Existe a ideia de que pessoas com limitações físicas são assexuais e que não conseguem ter uma vida sexual ativa por serem consideradas dependentes e frágeis. Porém, é preciso desmistificar esse pensamento, já que a libido, o desejo e a sexualidade dos cadeirantes não são alterados. Por outro lado, é importante entender que o ato sexual para essas pessoas têm certas particularidades.
Desta forma, a sensibilidade dos órgãos sexuais, por exemplo, pode estar modificada, tanto nos homens quanto nas mulheres. Além disso, a dificuldade de ereção, ejaculação ou baixa lubrificação vaginal são características que podem estar presentes na rotina dos usuários de cadeiras de rodas.
Sendo assim, o sexo e o prazer são perfeitamente possíveis. O que muda mesmo é a maneira de alcançar e sentir o orgasmo.
Pessoas com deficiência física só podem se relacionar com outras que também tenham limitações
Mito. É comum acreditar que pessoas com deficiências físicas só podem se relacionar com quem também tenha alguma limitação, pois só assim haverá entendimento. Isso não é verdade!
Entretanto, é preciso que o parceiro ou parceira tenha um conhecimento básico sobre as limitações da outra pessoa para saber como lidar com elas. A troca de informações e uma boa comunicação são muito importantes. Pois, além de evitarem constrangimentos e receios, garantem boas experiências para ambos.
Sendo assim, a sexualidade de um cadeirante exige cuidados redobrados, carinhos e preliminares.
Homens com deficiência física não conseguem ter ereção
Mito. Muitos homens com lesões medulares podem ter ereção, ejaculação e orgasmos. No entanto, o desafio que muitos deles enfrentam é o tempo e a qualidade da ereção.
Existem alguns fatores determinantes para que isso ocorra ou não. Entre eles estão o ponto da medula que sofreu a lesão (cervical, lombar, torácica, cauda equina ou cone medular), o tipo de deficiência motora. Também, se a lesão é completa ou incompleta.
Porém, o erro que a grande maioria das pessoas comete é achar que a ereção é o grande foco de uma relação sexual. Nesse sentido é importante explicar que o corpo é repleto de memórias, que envolvem todos os sentidos. Assim, durante as relações, os cadeirantes podem explorar outros meios, como imagens, cheiros, sabores e sons.
A pessoa com deficiência pode ter uma vida sexual saudável
Verdade. Como explicamos nos tópicos anteriores, o sexo não está resumido ao ato da penetração. Desta forma, a sexualidade pode ser descoberta e explorada de diversas formas, garantindo uma vida sexual ativa e saudável.
No entanto, caso haja penetração, pode-se tomar alguns cuidados durante a relação sexual, como o uso de lubrificantes para as mulheres se necessário. Além disso, também é preciso esvaziar a bexiga antes do ato e buscar posições mais confortáveis e prazerosas.
Vale reforçar que a sexualidade de um cadeirante não acaba após uma lesão ou doença, pois o processo mental ainda é o mesmo. Assim, o desejo sexual permanece. O que acontece é que, em muitos casos, esse desejo é desestimulado e colocado em segundo plano.
Muitos acreditam que o foco deve ser a reabilitação física e não o lado sexual, o que acaba incentivando o preconceito que gira em torno desse tema. Dessa forma, tanto a pessoa com deficiência quanto o parceiro ou parceira precisam se adaptar à situação e descobrir novas formas de intimidade.
Mulher cadeirante pode ter filhos?
Em geral, a mulher cadeirante pode ter filhos. No entanto o acompanhamento médico deve ser redobrado. Isto porque ela enfrenta os desafios e riscos que qualquer mulher experimenta, acrescidos das especificidades que sua condição impõe.
Nesse sentido, cada caso apresentará suas particularidades, demandas e riscos. Desta forma, uma pessoa com paraparesia, por exemplo, apresenta restrições e necessidades diferentes das enfrentadas por uma cadeirante com esclerose múltipla. Porém, pode-se abordar as situações e minimizar os riscos com a ajuda de profissionais de saúde competentes e cuidadosos.
Vale ressaltar que, se a mulher não tiver nenhum impedimento com relação à fertilidade, ela segue tendo ciclos ovulatórios e menstruando. Por esta razão, se mantiver relações sexuais normais, pode engravidar. No entanto, essa condição muda de organismo para organismo.
Além disso, mesmo paralisada da cintura para baixo, a mãe pode sentir algum movimento do bebê. Apesar dela não ter a sensibilidade de outras gestantes, ela vai perceber uma movimentação diferente do que está acostumada a sentir.
Cuidados especiais durante a gestação da mulher cadeirante
Uma grávida cadeirante terá que ter cuidados especiais durante a gestação. Porém, os problemas se concentram na mãe, porque o bebê se desenvolve normalmente e sem maiores riscos.
Confira abaixo os problemas que uma cadeirante pode ter durante a gravidez:
- Infecção urinária: Essa é uma constante possibilidade para qualquer gestante, mas em especial para uma cadeirante. Por esta razão, a grávida em uma cadeira de rodas deve ser muito vigiada pelo médico, pois a infecção urinária poderá causar complicações;
- Problemas Circulatórios e Trombose: Indica-se que a grávida cadeirante fique atenta à sua circulação, pois existe um maior risco de aparecer problemas como a trombose. Nesses casos, se necessário, o médico receitará anticoagulantes para ajudar nessa fase;
- Peso: O peso deve ser uma preocupação para todas as grávidas, e deve ter atenção especial pelas cadeirantes. Isto porque a obesidade pode possibilitar o aparecimento da diabetes gestacional e o aumento da pressão arterial durante a gravidez;
- O motivo que levou a mãe ficar cadeirante: Este é um aspecto que o médico levará em consideração. Se o motivo for externo, de ordem física, não será problema. Porém se houver alguma doença que levou a mãe à condição de cadeirante, o médico solicitará exames para verificar a saúde do bebê.
Como funciona o parto de uma mulher cadeirante?
O parto de uma grávida cadeirante não precisa ser necessariamente uma cesariana. É perfeitamente possível que ela tenha parto normal, pois dependendo do grau da lesão da medula ela poderá sentir as contrações.
No entanto, para ter o bebê de forma natural, é necessário que a gestante consiga fazer força e empurrar os músculos da parte baixa da barriga. Caso ela não tenha essa sensibilidade, os médicos optam por uma cirurgia de cesariana.
Homem cadeirante pode ter filhos?
Como já vimos anteriormente, o homem cadeirante também pode ter filhos. Entretanto, esta é uma questão que depende de alguns fatores como a extensão e o grau da lesão medular. Nesse sentido, quanto mais alta for a lesão na medula, maior será a área de impacto. Isso pois os membros deixam de receber qualquer tipo de estímulo vindo do cérebro.
Sendo assim, pode-se dizer que a maioria dos homens continua com desejo sexual mesmo após perder os movimentos da cintura para baixo. Além disso, em muitos casos, eles conseguem ter ereção, penetração, ejaculação e orgasmo. No entanto, o que muda nestas situações é que a ereção não dura muito tempo.
Desta maneira, é muito importante explicar que homens cadeirantes, em geral, não são inférteis e continuam produzindo espermatozóides. Porém, existem algumas exceções onde há algum trauma mais severo na região, que levou à infertilidade, como a oligospermia e a azoospermia.
Sendo assim, homens com deficiência física podem ou não ter problemas de ereção, mas continuam podendo ter filhos. Caso haja problema na função erétil e na ejaculação, existem medicamentos e tratamentos que podem ajudar neste momento.
Por outro lado, se mesmo assim os procedimentos não funcionarem, é possível que os homens cadeirantes tenham filhos através de uma extração de sêmen de forma cirúrgica. Desta maneira, eles podem recorrer ao tratamento de reprodução assistida.
Tratamentos para conseguir a ejaculação do homem cadeirante
Existem algumas opções para viabilizar a gravidez entre os casais em que o marido seja portador de lesão medular e que não consegue ejacular espontaneamente. Desta maneira, os métodos para ajudar os espermatozoides a saírem do organismo podem ocorrer por e Eletroejaculação (EEJ).
Sendo assim, é importante ressaltar que esse material espermático, na grande maioria das vezes, precisará ser levado ao útero. Ou, mais frequentemente, ao interior do óvulo. Isso quer dizer que, nestes casos, é preciso utilizar as técnicas de reprodução assistida, para obter uma gravidez.
Confira como acontece o tratamento a seguir:
Eletroejaculação (EEJ)
Essa técnica envolve a necessidade de anestesia geral em centro cirúrgico hospitalar, para uso de correntes elétricas intestinais a fim de se obter contrações da musculatura envolvida na propulsão do sêmen.
Por sua complexidade, é uma técnica menos difundida, com menor praticidade em comparação à VE. No entanto, ela apresenta taxas de sucesso muito altas.
Todavia, como é mais invasiva, é comum a sua substituição por técnicas que envolvem captura cirúrgica. Isso por conta da maior facilidade de manejo laboratorial, além de serem mais rápidas e com o menor custo financeiro.
Cadeirante pode ter filhos com reprodução assistida?
Como já vimos anteriormente, a pessoa cadeirante pode ter filhos de forma natural se não possuem problemas de fertilidade e se a lesão medular não comprometer a ereção e a ejaculação, no caso dos homens.
No entanto, se há dificuldades, tanto homens e mulheres podem recorrer à reprodução assistida para realizar o sonho de se tornarem pais e mães. Nesse sentido, os casos devem ter avaliação de forma individual por um especialista. Assim, decide-se a técnica mais indicada para cada paciente.
Veja, na sequência, as técnicas de Reprodução Humana que podem ser utilizadas:
Em mulheres cadeirantes:
- Indução da ovulação e orientação do coito: Esta técnica de baixa complexidade consiste na estimulação ovariana feita por medicamentos. Sendo assim, através de exames de ultrassonografia é realizado o acompanhamento dos folículos e óvulos. Assim, quando eles atingem o tamanho ideal, é o período que os casais devem manter relações sexuais com freqüência, pois as chances de gravidez são maiores.
- Inseminação Artificial ou Intrauterina: Neste procedimento também realiza-se o acompanhamento do ciclo menstrual da mulher. Porém, quando ela entra em seu período ovulatório, o sêmen do parceiro é coletado em laboratório e introduzido, no momento certo pelos especialistas, na cavidade uterina da mulher. Desta forma, a fertilização natural é facilitada através do encontro programado dos gametas.
- Fertilização in Vitro (FIV): Esta técnica de alta complexidade é uma das mais utilizadas pelos especialistas por ter maiores chances de sucesso. Nesse sentido, os óvulos e espermatozóides são coletados e fertilizados em laboratório. A partir daí são escolhidos os embriões de maior qualidade para serem transferidos de volta ao útero da mulher.
Em homens cadeirantes:
- Fertilização in Vitro (FIV): No caso de homens que tenham sofrido alguma lesão medular, a FIV pode ser a melhor solução. Nesses casos, é necessário realizar a coleta de espermatozóides por meio de algumas técnicas como a Eletroejaculação (EEJ) ou punção direta do epidídimo ou do testículo. Desta forma, após a coleta, o material é levado para o laboratório para ser utilizado na fertilização dos óvulos da parceira.
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