Bissexualidade e reprodução assistida são temas que merecem mais visibilidade e acolhimento dentro dos contextos de saúde e planejamento familiar. Nesse sentido,a bissexualidade é uma orientação sexual legítima, embora ainda pouco compreendida e frequentemente invisibilizada.
É importante reforçar que ser bissexual diz respeito à capacidade de se relacionar afetiva e/ou sexualmente com mais de um gênero, independentemente do parceiro atual. Ou seja, a orientação sexual não muda conforme o relacionamento do momento.
Desta forma, quando se trata de formar uma família, a reprodução assistida para bissexuais surge como um caminho viável, independentemente do tipo de vínculo afetivo em que estejam inseridos.
O texto a seguir foi desenvolvido para esclarecer dúvidas , reduzir inseguranças e promover o acolhimento a todos que buscam realizar o sonho da parentalidade com o suporte da medicina reprodutiva.
Para entender melhor os termos que envolvem diversidade sexual e de gênero, confira também nosso conteúdo sobre o significado de LGBTQIAPN+.
Boa leitura!
O que é ser bissexual: identidade e validação nos contextos de saúde reprodutiva
A bissexualidade é uma orientação sexual, que se refere à atração emocional romântica e/ou sexual por mais de um gênero. No entanto, essa orientação sexual muitas vezes é invisibilizada, principalmente quando a pessoa bissexual está em uma relação que se enquadra nas normas heteroafetivas ou homoafetivas. Isto porque existe uma ideia equivocada de que a orientação sexual depende exclusivamente do gênero da pessoa com quem se está no momento.
Essa situação pode se manifestar de diversas formas. Por exemplo, uma mulher bissexual em um relacionamento com um homem pode ter sua orientação sexual assumida como heterossexual. Já um homem bissexual em uma relação com outro homem pode ser automaticamente entendido como gay. Desta forma, essas suposições normativas desconsideram a complexidade da orientação bissexual e podem gerar inseguranças em relação à validação da própria orientação sexual.
Sendo assim, no contexto da reprodução assistida, esse apagamento pode causar hesitação na busca por tratamento. Pessoas bissexuais podem temer julgamentos, questionamentos sobre sua orientação ou falta de preparo da equipe de saúde para lidar com suas vivências específicas.
Nesse sentido, a ausência de escuta sensível pode ter um impacto emocional profundo, reforçando sentimentos de exclusão, justamente em um momento que exige acolhimento, cuidado e confiança.
Por isso, é fundamental que os espaços de saúde reprodutiva sejam inclusivos e reconheçam a diversidade de orientações, validando as vivências e os projetos familiares de pessoas bissexuais.
Reprodução assistida é um direito: o que diz a legislação para pessoas bissexuais
No Brasil, a Constituição Federal estabelece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (Art. 5º). Nesse sentido, a lei garante o acesso equitativo aos serviços de saúde reprodutiva, independentemente da identidade ou do arranjo afetivo de cada indivíduo, incluindo os bissexuais.
Em 2013, o Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu resolução autorizando casais homoafetivos e pessoas solteiras a acessarem técnicas de reprodução assistida (como FIV e inseminação artificial [IA]). Em 2021, a Resolução CFM nº 2294 reforçou essa igualdade, assegurando tratamento também para casais transgênero e pessoas bissexuais.
É importante lembrar que, juridicamente, entende-se a família como entidade plural, e a Constituição e muitos acórdãos do STF reconhecem uniões estáveis de diversas formas. Essa visão ampla é essencial para garantir um planejamento familiar LGBTQIAP+ justo e acessível.
Para entender melhor como a reprodução assistida vem se consolidando como direito para pessoas LGBTQIA+, vale conferir este artigo no portal Terra: Reprodução assistida e pessoas LGBTQIA+
Tipos de arranjos afetivos e suas possibilidades na reprodução assistida
Pessoas bissexuais podem construir diversos tipos de vínculos afetivos e familiares, e todos são igualmente legítimos quando se trata do acesso à reprodução assistida. Assim, seja em relacionamentos homoafetivos, heteroafetivos, em projetos de parentalidade solo, ou por meio de coparentalidade, existem caminhos viáveis e acessíveis dentro da medicina reprodutiva.
Para casais homoafetivos femininos, por exemplo, as técnicas utilizadas são a inseminação intrauterina com sêmen de doador e a fertilização in vitro (FIV) com possibilidade de gestação compartilhada. Desta forma, é possível que uma uma das parceiras doe os óvulos e a outra gere o bebê.
Já casais homoafetivos masculinos podem recorrer à FIV com óvulo doado e barriga solidária, desde que dentro dos critérios estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina.
No caso de casais de pessoas bissexuais, as opções seguem os mesmos protocolos indicados para casais heterossexuais, com possibilidades como FIV, inseminação intrauterina, ou até mesmo ovodoação, quando há necessidade de doadoras.
Da mesma forma, bissexuais de gênero feminino que desejam ter filhos de forma independente recorrem à inseminação com sêmen de doador ou FIV com banco de gametas. Esse caminho é cada vez mais procurado, e você pode saber mais acessando nosso conteúdo sobre produção independente.
A coparentalidade, quando duas pessoas que não formam um casal decidem ter um filho dividindo as responsabilidades parentais, também é uma escolha possível e respeitada. No entanto, para que isso ocorra, é fundamental que haja planejamento, apoio médico e orientação jurídica adequada.
Sendo assim, independentemente do arranjo familiar, o mais importante é contar com um atendimento inclusivo, ético e personalizado, que reconheça a singularidade de cada história. Um acompanhamento acolhedor faz toda a diferença para garantir que o processo seja conduzido com segurança, tranquilidade e respeito às vivências individuais.
Relações heteroafetivas e o apagamento da bissexualidade
Muitos bissexuais em relacionamentos heteroafetivos relatam o receio de não terem sua orientação reconhecida ou levada a sério. Esse sentimento é compreensível, pois ainda é comum que a sociedade, e até mesmo profissionais de saúde, presumam a orientação sexual de alguém com base apenas no gênero de seu parceiro ou parceira atual.
Nesse sentido, e importante reforçar que a bissexualidade não se anula dentro de uma relação hétero. A orientação diz respeito à capacidade de se atrair por mais de um gênero ao longo da vida, não à configuração do vínculo atual. Essa compreensão é fundamental para o bem-estar emocional e para o respeito à identidade da pessoa bissexual.
Em ambientes de saúde, especialmente em clínicas de reprodução assistida, a escuta qualificada e sem julgamentos é essencial. Clínicas inclusivas estão cada vez mais preparadas para oferecer um atendimento que respeita a diversidade, sem fazer suposições sobre identidade com base em relacionamentos ou aparência. Validar a orientação do paciente é parte do cuidado integral e um passo importante para promover acolhimento, confiança e segurança em todo o processo.
Casal homoafetivo formado por pessoas bissexuais: caminhos possíveis
Casais homoafetivos bissexuais têm à disposição diversas alternativas dentro da reprodução assistida que podem ser adaptadas às particularidades de cada história. Entre as técnicas mais procuradas estão:
- Fertilização in vitro (FIV) com dupla maternidade ou dupla paternidade: no caso de casais femininos, é possível que uma das parceiras doe os óvulos e a outra gere o bebê. É a chamada gestação compartilhada.
- Para casais masculinos, a FIV pode ser feita com óvulo doado e útero de substituição (barriga solidária), conforme as normas do Conselho Federal de Medicina.
- Inseminação intrauterina com sêmen de doador: indicada para casais femininos. É uma técnica menos invasiva e pode ser realizada com ou sem estimulação ovariana.
- Ovodoação: recomendada em casos de baixa reserva ovariana, doenças genéticas ou para casais de pessoas masculinas bissexuais. Felizmente, a doação de óvulos é uma opção segura e viável para quem deseja realizar o sonho da parentalidade.
Desta forma, cada tratamento deve ser cuidadosamente planejado com base nas necessidades específicas de cada casal, levando em conta fatores biológicos, emocionais e contextuais. Clínicas comprometidas com a inclusão oferecem escuta atenta, informações claras e um atendimento que respeita integralmente a singularidade do paciente.
Para entender melhor as técnicas mencionadas, acesse nosso conteúdo sobre o que é reprodução assistida.
Dúvidas frequentes de pessoas bissexuais sobre fertilidade e atendimento
Pessoas bissexuais frequentemente enfrentam inseguranças ao buscar tratamentos de reprodução assistida, muitas vezes reflexo de experiências anteriores de invisibilidade ou julgamento em ambientes de saúde.
A seguir, respondemos às perguntas mais comuns sobre essa questão.
“Meu relacionamento é hétero/homo, eu tenho direito à reprodução assistida?”
Sim. Independentemente do tipo de relação, seja heteroafetiva, homoafetiva ou uma produção independente, você tem o mesmo direito ao acesso aos tratamentos de reprodução assistida. O que determina a elegibilidade para os procedimentos são critérios médicos e legais, não a orientação sexual ou a configuração do relacionamento.
“Como a Reprodução Assistida pode ajudar casais bissexuais?”
A relação entre casais bissexuais e fertilização está na possibilidade de formar uma família com o apoio da medicina reprodutiva, independentemente do tipo de vínculo afetivo. Nesse sentido, a fertilização in vitro (FIV) oferece alternativas seguras e personalizadas para casais bissexuais, seja em relações homoafetivas, heteroafetivas ou em arranjos menos convencionais, como a coparentalidade.
“Podem me negar tratamento por conta da minha orientação?”
Não. A legislação brasileira e as normas éticas da medicina reprodutiva garantem que a orientação sexual não pode ser um fator de exclusão. Recusar atendimento por esse motivo é considerado discriminação e fere princípios constitucionais de igualdade.
“Serei respeitado(a) na minha identidade?”
Sim, especialmente em clínicas inclusivas de fertilidade que priorizam o respeito e a escuta ativa.
A Nilo Frantz Medicina Reprodutiva é uma das clínicas mais especializadas no assunto. Com tecnologia de ponta e atendimento altamente personalizado, destaca-se pelo acolhimento ao público LGBTQIA+, garantindo que todas as pessoas se sintam ouvidas, respeitadas e seguras em cada etapa do tratamento.
A importância de clínicas com linguagem inclusiva e escuta ativa
Mais do que oferecer técnicas avançadas de reprodução assistida, clínicas precisam garantir um ambiente acolhedor, respeitoso e seguro para todos os pacientes. Isto inclui pessoas bissexuais e demais integrantes da comunidade LGBTQIA+. Nesse sentido, o papel das equipes médicas, administrativas e de atendimento é fundamental.
Desta forma, a linguagem inclusiva e a escuta ativa são ferramentas importantes para validar identidades e evitar estigmas. Quando a comunicação parte do respeito e da empatia, o paciente se sente mais confiante para expressar seus desejos e dúvidas. Isso contribui diretamente para a qualidade do cuidado, o vínculo com a equipe e os próprios resultados do tratamento.
Usar o nome e o pronome corretos, evitar suposições sobre orientação sexual ou estrutura familiar e promover um diálogo livre de julgamentos são atitudes simples, mas com enorme poder de transformação no acolhimento emocional. Sentir-se visto, respeitado e validado desde o primeiro contato pode mudar completamente a experiência de quem busca a reprodução assistida.
É somente em um ambiente seguro e de confiança que se torna possível planejar a fertilidade com liberdade e tranquilidade. Nesse contexto, o congelamento de óvulos é uma alternativa relevante que amplia as possibilidades de escolha sobre quando ter filhos, respeitando o tempo, os desejos e os projetos pessoais.
Conclusão
Como vimos, a reprodução assistida é um direito de todas as pessoas, independentemente da orientação sexual, identidade de gênero ou arranjo familiar. Nesse sentido, técnicas como fertilização in vitro, inseminação artificial ou ovodoação devem estar disponíveis com equidade, respeito e segurança para quem deseja formar uma família.
Assim, buscar informação de qualidade e contar com profissionais que acolham sua história é um passo fundamental para viver esse processo com tranquilidade e autonomia. Afinal, sentir-se reconhecido e respeitado faz toda a diferença em um momento tão especial e delicado.
Na Clínica Nilo Frantz, a escuta, o apoio e o cuidado humanizado são tão importantes quanto a tecnologia e o conhecimento científico. Desta forma, a equipe atua com o compromisso de ajudar cada pessoa a realizar o sonho de formar uma família, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero.