Engravidar mais tarde é uma forte tendência, que parece irreversível. Muitas pessoas não sabem, mas a fertilidade feminina diminui com o tempo. O início deste declínio se dá por volta dos 30 anos; de uma maneira mais significativa, após 35; e mais acelerado a partir dos 40. Em consequência, há uma demanda crescente por tratamentos de infertilidade nas mulheres com mais idade.
Devido à divulgação dos progressos, existe a ideia de que a fertilidade feminina pode ser manipulada em qualquer idade graças à reprodução assistida, porém isto nem sempre é verdade. Houve sim, grandes avanços, mas quem se beneficiou foram as mais jovens. As taxas de gestação com a fertilização in vitro com óvulos próprios também declinam com a idade: aos 30 anos são de 48%, mas aos 42, atingem somente 14% de sucesso.
Entre as causas apontadas para a postergação estão a capacitação profissional, a busca de estabilidade financeira e a procura do parceiro ideal, que são muito referidas, mas há outras razões. Muitas mulheres não têm a exata percepção sobre as limitações da sua capacidade reprodutiva. Hoje é bastante comum a divulgação de gestações aos 45, 50 anos, e os especialistas são confrontados com estas informações. No entanto, essas gestações são predominantemente resultantes de óvulos doados. Tratamentos com doação de óvulos alcançam as melhores taxas, mas é preciso aceitar gerar um filho sem a sua carga genética. Além disso, por haver limitações no Brasil para a obtenção de óvulos doados, há uma longa fila de espera para esse tipo de tratamento. Uma alternativa concreta é o congelamento de óvulos. Os resultados atuais são comparáveis aos tratamentos com óvulos frescos. A mulher que congela os óvulos, ainda jovem e fértil, pode resgatar a chance de gestar, no futuro, quando já estiver estabilizada profissional e afetivamente.
A mulher que adia a maternidade não deve ser rotulada de egoísta, nem vista como uma pessoa que, irresponsavelmente não esteja preocupada em formar uma família. A pressão social a leva neste direção. No entanto, essa deve ser uma escolha livre, baseada no adequado conhecimento dos seus limites naturais e do real potencial da medicina reprodutiva. É chegada a hora de refletir sobre este tema, pois muitas mulheres estão ficando, involuntariamente, se, filhos. No intuito de preservar a fertilidade feminina, médicos, outros profissionais da saúde e até a mídia devem iniciar uma ampla discussão, com a divulgação de dados e fatos reais sobre a postergação da maternidade e suas consequências.
Texto: Dr. Marcelo Ferreira