A notícia da gestação gemelar é sempre acompanhada de muitas perguntas e anseios. Afinal, gestar mais de um bebê tem suas peculiaridades e requer mais cuidados durante todo o pré-natal.
Sendo assim, o que fazer para que a gestação múltipla seja tranquila? Há riscos para a mãe e para os bebês? Como vai ser o parto? A Fertilização in Vitro aumenta as chances de uma gravidez múltipla?
O texto a seguir vai esclarecer estas e outras dúvidas sobre a curiosa e intrigante experiência da gravidez gemelar.
O que é gestação gemelar?
A gestação gemelar é aquela em que a mulher gesta mais de um bebê ao mesmo tempo. Ou seja, é uma gravidez com pelo menos dois bebês na barriga da mãe. Também chamada de gravidez múltipla, a forma mais comum é a gestação de gêmeos, quando dois fetos se desenvolvem simultaneamente no útero materno.
Porém, há casos menos frequentes de trigêmeos (três bebês), quadrigêmeos (quatro bebês) e até um número maior de irmãos gerados juntos. Segundo estudos, a frequência de nascimentos múltiplos é de:
- Gêmeos: 1 em cada 80 nascimentos;
- Trigêmeos: 1 em cada 6.400 nascimentos;
- Quadrigêmeos e demais casos: 1 em cada 512.000 nascimentos.
Fatores que predispõem a gestação gemelar
É notório que o número de gestações gemelares vêm crescendo nas últimas décadas. Nesse sentido, alguns fatores podem influenciar ou até induzir com que esse tipo de gravidez aconteça:
- Herança genética: A chance de uma gravidez de múltiplos é maior quando a grávida tem histórico familiar de gêmeos. Nesse sentido, essa possibilidade aumenta ainda mais quando a presença gemelar vem da família da mãe da gestante. Isso acontece pois algumas mulheres têm um gene que predispõe uma ovulação dupla, o que aumenta a incidência de gravidez gemelar dizigótica.
- Partos gemelares anteriores: Mulheres que já tiveram filhos, especialmente aquelas que passaram por uma gestação gemelar, têm mais chances de uma nova gravidez múltipla.
- Idade: Com o passar do tempo, o corpo feminino produz mais hormônios que estimulam a ovulação, e assim os ovários liberam mais óvulos a cada mês. Desta forma, partir dos 30 anos aumentam as probabilidades de uma gestação de múltiplos.
- Medicamentos para aumentar a fertilidade: os indutores de ovulação usados em alguns tratamentos para gravidez aumentam a probabilidade da mulher liberar dois ou mais óvulos, e assim podem causar uma gravidez gemelar.
- Fertilização in Vitro: A técnica de FIV e outros tratamentos de reprodução assistida aumentam as chances de uma gravidez gemelar, quando transfere-se mais de um embrião ao útero materno.
Tipos de gestação gemelar
Como já vimos, a gestação gemelar acontece quando pelo menos dois bebês são gestados ao mesmo tempo. Porém, mesmo que se desenvolvam juntos no útero materno, alguns gêmeos são iguais. Por sua vez, outros nem se parecem, e inclusive podem até ser de sexos diferentes.
Nesse sentido, a origem da gestação gemelar é que vai determinar se os bebês serão idênticos (univitelinos), que representam 20% dos casos. Ou, então, fraterno (bivitelinos), que são 80% dos nascimentos gemelares. Saiba mais sobre cada um dos tipos de gestação gemelar abaixo:
Univitelinos
Os gêmeos univitelinos, também chamados de monozigóticos, não fraternos ou gêmeos idênticos, são oriundos de uma única gestação. Ou seja, da fecundação de apenas um óvulo e um espermatozoide. Nestes casos, o zigoto se divide em duas células distintas, geneticamente idênticas, que darão origem a dois bebês.
Desta forma, os dois embriões serão do mesmo sexo e carregarão o mesmo DNA, afinal formaram-se a partir de uma única fecundação. Além disso, se essa ruptura celular acontecer mais uma vez, a gravidez pode resultar em trigêmeos, quadrigêmeos idênticos ou em até mais filhos.
Por outro lado, o tempo de demora na divisão do zigoto vai determinar se os gêmeos univitelinos irão compartilhar ou não a placenta e o saco gestacional, o que impacta nos cuidados durante a gestação. Nesse sentido, a gravidez em que os bebês encontram-se em uma única placenta são sempre de maior risco. Por isso, devem ter um acompanhamento mais de perto.
Classificam-se as gestações de gêmeos monozigóticos de acordo com o número de placentas e bolsas. Confira na imagem abaixo:
Bivitelinos
Os gêmeos bivitelinos, também conhecidos como dizigóticos ou fraternos, formam-se a partir da fecundação de dois ou mais óvulos por dois ou mais espermatozoides. Ou seja, provém de zigotos diferentes.
Dessa forma, é como se fossem gestações isoladas mas que se desenvolvem ao mesmo tempo e no mesmo ambiente. Assim, os gêmeos bivitelinos são geneticamente diferentes. Então, cada um tem sempre a sua placenta e a membrana, porém compartilham o mesmo útero.
Como é o pré-natal de quem está grávida de gêmeos?
Considera-se a gestação gemelar uma gravidez de alto risco, o que implica em mais cuidados em relação à mãe e aos bebês. Desta forma, o pré-natal das grávidas de múltiplos demanda uma atenção ainda mais especial do que ocorre nas gestações com apenas um feto.
Por esta razão, é necessário a realização de mais consultas e de exames para que o médico possa acompanhar de perto o crescimento e desenvolvimento dos bebês. Nesse sentido, é importante monitorar a saúde da gestante e dos fetos para identificar precocemente eventuais problemas e instituir o tratamento, se necessário.
Veja qual a frequência indicada para as consultas médicas, em caso de gestação gemelar:
- Mensais: do início da gravidez até o final do 2º trimestre;
- Quinzenais: a cada 15 dias, durante todo o 3º trimestre;
- Semanais: por volta da 33ª, 34ª semana até o parto.
Exames
Um dos primeiros exames realizados no pré-natal de múltiplos é a ultrassonografia. Ele serve para confirmar o número de bebês e o tipo de gestação gemelar.
Nesse sentido, é importante saber se os fetos dividem a mesma placenta (monocoriônicos), o que aumenta o risco de complicações. Já nos casos em que há duas placentas, uma para cada feto, as chances de problemas são menores.
E para que haja um controle mais próximo da evolução da gravidez, a ultrassonografia é repetida mensalmente nas gestações dicoriônicas, ou quinzenalmente nas gestações monocoriônicas. Além disso, a avaliação pode ser completada através do ultrassom transvaginal.
Da mesma forma, o médico costuma também solicitar exames gestacionais mais frequentes. Isso para prevenir e diagnosticar anemia e outras doenças como diabetes, que apresentam maior incidência na gravidez de gêmeos.
Quais são os riscos da gestação gemelar?
Como já mencionado, a gestação gemelar é considerada de alto risco, e portanto, requer mais atenção tanto em relação à mãe, quanto aos bebês que se desenvolvem no útero. Como a gravidez de múltiplos sobrecarrega o organismo, existem mais chances de ocorrerem alguns problemas para a saúde da gestante e dos fetos.
Riscos para a mãe:
- Pré-eclâmpsia: é o surgimento de pressão arterial alta após a 20ª semana de gravidez, associado à perda de proteínas na urina, chamada de proteinúria. Desta forma, a pré-eclâmpsia pode representar risco para a mãe e para a gravidez;
- Diabete gestacional: o diabetes gestacional é uma doença que afeta a forma como as células utilizam a glicose (açúcar), provocando níveis elevados desta substância no sangue. Isso pode afetar o curso da gravidez e a saúde do bebê;
- Anemia materna: A anemia é a condição na qual o número de células vermelhas do sangue e a sua capacidade de transporte de oxigênio são insuficientes para atender às necessidades fisiológicas. Nesse sentido, as mulheres são 50% mais propensas a sofrer de anemia durante a gravidez quando se trata de gêmeos. Isto pode levar a uma fraca absorção de nutrientes e a uma série de outros efeitos colaterais, tanto para a mãe como para o feto;
- Aborto espontâneo. Mais frequente em gravidezes múltiplas, pode ocasionar a perda de um só bebê, mesmo que os demais continuem desenvolvendo-se normalmente, ou pode afetar toda a gestação;
- Parto prematuro: Acontece em cerca de metade dos casos de gestação gemelar. A média de idade gestacional é de 36 semanas para gestação de gêmeos e de 28 a 33 semanas no caso da trigemelar ou mais fetos;
- Descolamento prematuro da placenta– Também chamado de placenta abrupta ou desprendimento placentário, é uma complicação incomum, porém grave da gravidez. Ela ocorre quando a placenta descola-se parcial ou completamente do útero antes da hora do parto. Desta forma, a perda de contato entre a placenta e o útero pode não só privar o bebê de oxigênio e nutrientes, como também provocar hemorragia. Isso leva a uma volumosa perda de sangue por parte da mãe.
Riscos para os bebês:
- Síndrome da Transfusão Feto-Fetal: Acontece quando um bebê recebe mais sangue do que outro. Essa doença ocorre com mais frequência em gestações univitelinas monocoriônicos. Ou seja, quando os fetos compartilham a mesma placenta;
- Restrição de crescimento intrauterino: Se dá quando um ou mais fetos não crescem adequadamente. Caso isso ocorra não há muito o que possa ser feito. Às vezes, inclusive, é necessário um parto de emergência para garantir que os bebês fiquem bem;
- Malformação fetal: malformações cardíacas ou do tubo neural, estão entre os riscos dos fetos que dividem a mesma placenta.
Mitos e verdades sobre gestação gemelar
O universo da gestação gemelar é cheio de dúvidas, curiosidades e mitos que podem confundir a cabeça das gestantes. Veja agora quais são os mitos e verdades sobre a gravidez de múltiplos.
- Os incômodos da gravidez são maiores na gestação múltipla? Verdade. Esses sintomas bem clássicos da gravidez como sonolência, náuseas intensas, dor nas costas, inchaço, azia e aumento de pressão são mais intensos na gestação gemelar. Isso ocorre pois o organismo produz níveis mais altos de hormônios;
- Há mais chances de gestação gemelar quando há casos na família? Verdade.Quanto maior o número de casos na família em um menor grau de parentesco, maiores são as chances;
- O consumo de calorias deve ser maior na gravidez gemelar?Verdade. Porém, isso não quer dizer ingerir comida por dois. O ideal é contar com supervisão do médico obstetra e de profissionais nutricionistas para indicar qual é a forma correta de alimentação. E, também, qual o ganho de peso ideal em cada fase da gravidez;
- Em uma gestação gemelar é preciso fazer mais consultas e exames durante o pré-natal?Verdade. A grávida de gêmeos necessita de cuidados extras. Portanto deve ir ao consultório e realizar exames com uma frequência maior do que mães que estão esperando apenas um bebê;
- Todos os partos de gêmeos são prematuros? Mito. Nem todas as gestações gemelares terminam prematuramente, antes da 37ª semana. Com o pré-natal bem realizado, alimentação saudável e controle do peso muitas vezes se consegue evitar nascimentos prematuros. Entretanto, quando trata-se de trigêmeos, são raríssimas exceções em que o ciclo completo da gravidez consegue ser concluído;
- Os gêmeos não podem nascer de parto normal. Mito. Desde que não exista nenhuma complicação com os bebês e a gestante, é possível realizar o parto normal. Para isso é preciso que os bebês estejam na posição correta para que o parto vaginal possa ocorrer de forma tranquila;
- O parto de gêmeos é mais complicado. Verdade. Por se tratar de dois bebês, ou mais, a equipe médica precisa ser ágil na retirada dos fetos. Além disso, para lidar com o sangramento uterino da mãe, que geralmente é mais intenso depois do parto;
- Técnicas de Reprodução Assistida sempre resultam em gêmeos? Mito. Vai depender do número de embriões transferidos ao útero, e esta é uma decisão do especialista que avalia a necessidade de cada caso. Além disso, mesmo que seja usado apenas um embrião, existe a possibilidade de divisão embrionária espontânea. Isso pode acontecer em qualquer tipo de gravidez, natural ou através de reprodução humana.
Cuidados para ter durante a gestação gemelar
A gravidez gemelar requer cuidados parecidos com os de uma gravidez normal. Ou seja, quando há apenas um bebe em desenvolvimento no útero, porém a atenção deve ser redobrada. Nesse sentido, a gestante deve se preocupar em manter uma alimentação equilibrada, não ganhar peso em excesso e fazer exercícios físicos adequados. Tudo para manter uma rotina de vida saudável e evitar possíveis complicações na gravidez.
Veja na imagem abaixo algumas dicas para quem está passando por uma gestação gemelar:
Há mais chances de gestação gemelar por meio da FIV?
A incidência de gestações gemelares, em casos de Fertilização in Vitro, era grande nos primeiros anos de uso desta técnica da medicina reprodutiva que combate a infertilidade. Isto ocorria pois, com objetivo de aumentar as chances de uma gravidez, costumava-se transferir vários embriões ao útero materno. Aumentava-se, assim, as taxas de nascimentos de gêmeos.
Porém, com a evolução das técnicas de reprodução assistida, que permitem hoje a produção e a seleção dos embriões de melhor qualidade, essa realidade mudou.
Nesse sentido, a partir de 2010, (com atualizações em 2017), o Conselho Federal de Medicina (CFM) passou a recomendar a transferência de número máximo de embriões, de acordo com a idade da mulher. A intenção foi reduzir as chances de gestações múltiplas nos tratamentos de reprodução humana, pois são consideradas gravidez de alto risco.
Confira a indicação do Conselho Federal de Medicina (CFM):
Mesmo assim, vale salientar que a decisão sobre a quantidade de embriões a ser transferidos deve ser feita pelos pacientes com o médico. Nesse sentido, leva-se em consideração ainda outros fatores como número de embriões disponíveis, tentativas anteriores, desejo (ou não) de gestação gemelar e possíveis complicações.
Nos casos de receptoras de óvulos doados, considera-se a idade da doadora (sempre abaixo de 35 anos) e não da receptora. Desta forma, a recomendação é de transferir até dois embriões. Quer saber ainda mais sobre fertilização in vitro? Então baixe o nosso e-book gratuitamente!