O congelamento de óvulos, também chamado de criopreservação, é a técnica de preservação dos óvulos em nitrogênio líquido, por meio de vitrificação. Nesse sentido, o congelamento de óvulos é um tratamento para postergar a possibilidade de ter filhos.
Este procedimento ocorreu pela primeira vez em 1986 e, desde então, o método progrediu significativamente. Vale ressaltar que, nos primeiros anos, a taxa de gravidez a partir de óvulo congelado era muito baixa (cerca de 1%). Isso acontecia porque a técnica utilizada para o congelamento criava cristais de gelo que danificavam a estrutura da célula.
No entanto, com a introdução da técnica de vitrificação, em 2006, a taxa de qualidade e de sobrevivência dos óvulos após descongelamento aumentou para 95%. Assim, de acordo com o Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), a procura por congelamento de óvulos triplicou nos últimos anos.
Por este motivo, a técnica é considerada como um dos avanços mais importantes da Medicina Reprodutiva dos últimos tempos.
Até que idade é possível congelar óvulos?
Sabe-se que as mulheres estão biologicamente no auge da fertilidade entre 20 a 30 anos. Portanto, o ideal é fazer o congelamento de óvulos nesse período.
Contudo, muitas mulheres deixam para recorrer ao procedimento depois dos 38 anos, porém, as chances de sucesso diminuem muito. Isso porque o envelhecimento reduz significativamente a quantidade e a qualidade dos óvulos produzidos, interferindo diretamente nas chances de uma gravidez.
Sendo assim, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRA), a idade indicada para o congelamento de óvulos é de até 35 anos.
Quando o congelamento de óvulos é indicado?
Existem diversos motivos pelos quais as mulheres optam pelo congelamento de óvulos. Seja por escolha pessoal ou questões médicas, com a criopreservação as mulheres ganham mais tempo para decidirem sobre a maternidade.
Veja quais as principais indicações para o congelamento de óvulos:
Mulheres que pretendem engravidar após os 35 anos de idade
Em um passado não muito distante, o início da maternidade era, geralmente, aos 20 anos. Hoje em dia, como já vimos, a média de idade do primeiro filho supera os 35 anos.
Nesse sentido, é importante esclarecer que as mulheres já nascem com um número de óvulos predeterminado e o seu organismo não é capaz de produzir mais. Sendo assim, com o avanço da idade, os óvulos envelhecem e, neste processo, a quantidade e a qualidade disponíveis para serem fertilizados também diminuem.
Por esta razão, para aquelas mulheres que pretendem adiar a maternidade recomenda-se o congelamento de óvulos. Entretanto, segundo o Conselho Federal de Medicina, a idade máxima para se submeter a um tratamento de reprodução assistida é de até 50 anos. Este limite de idade se deve ao risco de aumento de casos de hipertensão na gravidez, diabetes e partos prematuros.
Mulheres com histórico familiar de menopausa precoce
A menopausa precoce é um quadro clínico em que a mulher deixa de ovular e menstruar antes dos 32 anos. Isso é considerado anormal já que o período natural para a falência ovariana é após os 40 anos.
Sabe-se que a menopausa precoce pode se originar de vários fatores, como da própria genética, por exemplo. Dessa forma, é importante que a mulher saiba quando sua mãe e avós entraram na menopausa, pois há uma tendência que o cenário se repita.
No entanto, independente dos fatores, é importante ressaltar que mulheres com menopausa precoce podem preservar a sua fertilidade, congelando seus óvulos de forma preventiva. Assim, quando decidirem ter filhos, poderão usar os óvulos congelados, caso necessário.
Mulheres que serão submetidas a tratamentos oncológicos
Mulheres que necessitam de quimioterapia ou radioterapia, e que desejam ter filhos, têm a possibilidade de congelar os óvulos antes de iniciar o tratamento oncológico. Assim, quando estiverem recuperadas poderão usar seus próprios gametas para engravidar.
Entretanto, é fundamental avaliar junto ao oncologista a viabilidade de fazer o congelamento prévio ao tratamento contra o câncer. Se não for possível esperar para realizar a indução de ovulação, existe a possibilidade da retirada e o congelamento apenas de fragmentos de tecido ovariano. Assim, quando a mulher terminar o tratamento, pode-se implantar estes fragmentos novamente, para tentar a fertilização.
Quais são as taxas de sucesso de gravidez com óvulos congelados?
Sabe-se que desde 2006, com o desenvolvimento da “vitrificação”, técnica criada por cientistas japoneses, a taxa de sobrevivência do óvulo após descongelamento é de 95%. Dessa forma, as taxas de gravidez de óvulos congelados são praticamente as mesmas dos óvulos frescos.
No entanto, vale lembrar que a taxa de sucesso de uma gestação relaciona-se diretamente à idade da mulher no momento em que congelar seus óvulos. Ou seja, o que importa é a idade do óvulo e não o da mulher na época em que vai ocorrer a fertilização e a transferência.
Portanto, a possibilidade de uma gravidez futura em mulheres que congelarem seus óvulos depois dos 38 anos de idade é menor do que em mulheres que fizeram o procedimento mais jovens.
Confira abaixo as chances de sucesso de gravidez, conforme a idade da mulher.
Idade da Mulher | Chances de Engravidar (%) |
Até 25 anos | 25-30% |
26-30 anos | 20-25% |
31-35 anos | 15-20% |
36-40 anos | 10-15% |
Acima de 40 anos | Menos de 5% |
É importante dizer que cada caso é diferente do outro. Portanto, é imprescindível que a mulher passe por uma avaliação médica para verificar a sua reserva ovariana e outras questões de saúde. Da mesma forma, ela precisa do acompanhamento de um especialista em reprodução assistida durante todo o processo de congelamento de óvulos.
Como funciona o congelamento de óvulos?
O congelamento de óvulos é realizado em algumas etapas e leva em média 15 dias. Veja o que acontece em cada fase do tratamento:
Estimulação ovariana
A estimulação ovariana tem como principal objetivo estimular um número maior de óvulos maduros para serem coletados e congelados. Assim, a mulher recebe injeções de hormônios para estimular seus ovários a produzir múltiplos óvulos no mesmo ciclo menstrual e não apenas um, como ocorre naturalmente. Dessa forma, o uso de medicamentos como as gonadotrofinas, promove o amadurecimento de mais óvulos para serem coletados
Monitoramento e controle hormonal
Durante aproximadamente de 10 a 14 dias, a mulher é monitorada através de exames de ultrassonografias e de sangue. O objetivo é avaliar o desenvolvimento dos folículos ovarianos e ajustar as doses dos hormônios conforme necessário.
Desta forma, quando os folículos atingem um tamanho adequado, uma injeção de hormônio hCG é administrada para induzir a maturação final dos óvulos nos folículos.
Aspiração e recuperação dos óvulos
A coleta dos óvulos, ou punção folicular, ocorre cerca de 36 horas após a injeção de hCG. Este procedimento acontece com uma agulha fina acoplada ao ultrassom que é introduzida na vagina da paciente até os ovários para aspirar os folículos. Em seguida, o líquido aspirado é depositado em tubinhos que contêm uma solução nutritiva semelhante à produzida pelas trompas. Este procedimento é realizado sob sedação leve.
Congelamento
Após a coleta, os óvulos são imediatamente levados ao laboratório, onde são avaliados e preparados para o congelamento. O processo acontece pela técnica de vitrificação, que se caracteriza pela rapidez com que atinge baixas temperaturas. Sendo assim, a velocidade da diminuição de temperatura na vitrificação é de – 23ºC por minuto. Ou seja, 70 vezes mais rápido que o processo de congelamento lento.
Dessa forma, os óvulos congelados ficam armazenados em um cilindro de nitrogênio líquido e são mantidos a −196º. Eles, por sua vez, ficam num estado vítreo, impedindo a formação de cristais de gelo, que danificam as células reprodutoras.
Como funciona o descongelamento de óvulos e seu uso na Fertilização in vitro?
Os óvulos criopreservados podem ficar congelados, por tempo indeterminado, até serem utilizados para uma gravidez própria, ovodoação, ou eventualmente descartados. Nesse sentido, para passar pela fertilização in vitro, os óvulos são descongelados em um processo controlado e, então, fecundados em laboratório. Os embriões resultantes são cultivados por alguns dias antes de serem transferidos para o útero da mulher para tentar uma gravidez.
Confira abaixo mais detalhes sobre a Fiv com óvulos descongelados
Preparo do endométrio
O preparo do endométrio, camada interna do útero, para receber os embriões pode ser considerado um processo simples. Se a mulher possui ciclos regulares, o procedimento pode acontecer dentro de um ciclo ovulatório espontâneo, acompanhado por ultrassom e dosagens hormonais.
Descongelamento e fertilização in vitro
No processo de descongelamento, retiram-se os óvulos do nitrogênio líquido para serem aquecidos. Logo após, acontece a fertilização quando são fecundados em laboratório, usando esperma do parceiro ou doado.
Os embriões resultantes têm o seu crescimento acompanhado até o quinto dia, quando atingem a fase de blastocisto, e estão prontos para transferência ao útero.
Transferência embrionária
Com os embriões de melhor qualidade separados e o endométrio adequadamente preparado, a mulher poderá agendar a transferência embrionária. O processo é indolor e consiste na introdução dos embriões no útero por meio de uma sonda (cateter) guiada por ultrassom abdominal. Normalmente, o procedimento é feito sem anestesia. Assim, depois de 10 dias, deve ser feito um exame beta HCG para confirmar a gravidez.
Caso positivo, mantém-se a reposição de estradiol e progesterona até completar 12 semanas de gestação. A partir desse momento, a placenta já será capaz de produzir esses hormônios em quantidades corretas.
Há riscos no congelamento de óvulos?
Como vimos, o congelamento de óvulos é uma opção muito segura e cada vez mais popular entre as mulheres que desejam ou precisam preservar sua fertilidade. Nesse sentido, a vitrificação, atual processo de congelamento dos gametas, garante total qualidade das células. Assim, o embrião resultante da fecundação do óvulo congelado pelo espermatozoide tem a mesma qualidade do embrião formado por um óvulo fresco.
Portanto, o congelamento de óvulos é um processo seguro que não traz riscos para a saúde da mãe e nem para a saúde do bebê. Entretanto, como qualquer procedimento médico, ainda que relativamente raro, podem ocorrer situações indesejadas como:
- Pequeno sangramento ou lesão nos ovários durante a coleta dos óvulos;
- Reações à anestesia;
- Durante a estimulação do ovário, podem ocorrer inchaço, irritabilidade e desconforto abdominal que devem regredir após alguns dias;
- Apesar dos avanços da criopreservação, alguns óvulos podem não sobreviver ou sofrer danos no seu descongelamento, tornando-o inviável para a fertilização;
Para minimizar possíveis riscos do congelamento de óvulos, é importante que o procedimento seja realizado por um médico especialista, em uma clínica capacitada e de confiança. Além disso, alguns fatores e cuidados favorecem o sucesso positivo do procedimento:
A qualidade dos óvulos diminui com o passar do tempo, o que impacta nas chances de gravidez de uma fertilização in vitro. Desta forma, o indicado é congelar óvulos “jovens”, de pacientes com até 35 anos.
Síndrome do Hiperestímulo Ovariano (SHO)
Esta síndrome é uma resposta exacerbada dos ovários ao estímulo hormonal feito para estimulação ovariana, resultando em um crescimento de óvulos maior do que o esperado. Este quadro está associado também à passagem de fluido dos vasos sanguíneos que se tornam mais permeáveis, o que ocasiona uma retenção de líquido no abdômen.
Desta forma, o desenvolvimento da SHO depende da resposta de cada paciente ao uso dos hormônios e atinge especialmente pessoas com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Portanto, o especialista em medicina reprodutiva monitora, através de ultrassons e dosagens hormonais, a resposta de cada mulher ajustando a quantidade e tipo de medicação.
Os tratamentos de quimioterapia e radioterapia usados para combater o câncer podem afetar a fertilidade feminina. Desta forma, quando possível, é recomendado realizar o congelamento de óvulos antes de iniciar o uso das medicações oncológicas.
As mulheres hipertensas, obesas, ou fumantes devem reverter esses quadros antes de iniciar o tratamento. O ideal é perder peso, parar de fumar e controlar a hipertensão para aumentar as chances de sucesso do congelamento de óvulos.
Quais os aspectos éticos e regulatórios do congelamento de óvulos?
A atividade de medicina reprodutiva no Brasil é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) que estabelece as normas técnicas e éticas da medicina no país. Desta forma, através de soluções específicas, como a RESOLUÇÃO CFM nº 2.320/2022, o CFM regula a prática das técnicas de reprodução assistida, definindo os procedimentos permitidos, as diretrizes e os limites. Além disso, são estabelecidos também os direitos e deveres dos pacientes, dos profissionais de saúde e das clínicas de reprodução assistida do Brasil.
É importante salientar que periodicamente as resoluções estabelecidas podem ser alteradas e ajustadas, buscando sempre maior segurança e eficácia a tratamentos e procedimentos médicos.
Veja abaixo o que o CFM diz sobre congelamento de óvulos e de embriões:
PRINCÍPIOS GERAIS
- As técnicas de reprodução assistida (RA) têm o papel de auxiliar no processo de procriação;
- As técnicas de reprodução assistida podem ser utilizadas para doação de gametas e para preservação de gametas, embriões e tecidos germinativos por razões médicas e não médicas;
- Quanto ao número de embriões a serem transferidos pós FIV, determina-se, conforme a idade:
1. Mulheres com até 37 (trinta e sete) anos: até 2 (dois) embriões;
2. Mulheres com mais de 37 (trinta e sete) anos: até 3 (três) embriões;
3. Em caso de embriões euploides ao diagnóstico genético, até 2 (dois) embriões, independentemente da idade;
4. Nas situações de doação de oócitos, considera-se a idade da doadora no momento de sua coleta.
CRIOPRESERVAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES
- As clínicas, centros ou serviços podem crio preservar espermatozoides, oócitos, embriões e tecidos gonadais.
- O número total de embriões gerados em laboratório será comunicado aos pacientes para decidirem quantos embriões serão transferidos a fresco, conforme determina esta Resolução. Os excedentes viáveis devem ser criopreservados.
- Antes da geração dos embriões, os pacientes devem manifestar sua vontade, por escrito, quanto ao destino dos embriões criopreservados em caso de divórcio, dissolução de união estável ou falecimento de um deles, ou de ambos, e se desejam doá-los.
- Os embriões criopreservados com três anos ou mais poderão ser descartados se essa for a vontade expressa.
- Embrião abandonado é aquele em que os responsáveis descumpriram o contrato preestabelecido e não foram localizados pela clínica.
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