A assexualidade é caracterizada pela ausência ou baixa frequência de atração sexual por outras pessoas. Nesse sentido, estar no espectro da assexualidade significa vivenciar essa atração de formas muito diversas. Algumas pessoas podem sentir desejo em certas circunstâncias, outras não. No entanto, todas essas experiências são válidas e merecem respeito.
A Dra. Daiane Pagliarin, especialista em reprodução assistida, destaca que é importante lembrar que o desejo de formar uma família não está vinculado à vivência da sexualidade. Desta forma, pessoas assexuais também sonham com a maternidade ou paternidade, constroem relações afetivas profundas e têm o direito de planejar a própria jornada reprodutiva com autonomia.
Assim, a reprodução assistida para assexuais se apresenta como um caminho real e viável. Mais do que uma possibilidade técnica, é uma forma de acolher diferentes formas de existir e amar, respeitando o tempo e os desejos de cada indivíduo.
Com este olhar, o conteúdo a seguir não pretende explicar os detalhes médicos dos tratamentos, mas abrir espaço para o diálogo e a escuta. Aqui, o foco está na diversidade de projetos familiares e nas possibilidades que a medicina reprodutiva oferece, com empatia e cuidado. Boa leitura!
O que é assexualidade e por que precisamos falar sobre isso
A assexualidade é uma orientação sexual real, embora ainda pouco compreendida, tanto socialmente quanto em ambientes de saúde. Nesse sentido, é importante diferenciar atração sexual de atração afetiva ou romântica. Uma pessoa assexual pode, por exemplo, se apaixonar, desejar construir uma família e manter laços intensos, mesmo sem sentir necessidade de envolvimento sexual. Já outras podem não desejar ou priorizar qualquer tipo de vínculo nesse sentido.
Dentro do espectro assexual, existem diferentes nuances. A demissexualidade se refere a pessoas que só sentem atração sexual quando existe uma conexão emocional. Já pessoas gray-A (ou gray-assexuais) fazem sexo muito raramente ou em situações muito específicas, que não se encaixam nas normas convencionais de desejo.
No entanto, é essencial abordar esse tema sem termos patologizantes ou estigmatizantes. A assexualidade não é um distúrbio, nem uma fase, tampouco algo que precise ser “tratado”. Reconhecer essa identidade, especialmente na área da saúde, é um passo importante para garantir atendimento acolhedor, escuta qualificada e cuidado ético.
Nesse sentido, a comunidade assexual no Brasil tem promovido informação e conscientização por meio do site assexualidade.com.br, uma fonte confiável construída por quem vive essa experiência. Valorizar esses espaços é fundamental para quebrar preconceitos e ampliar o entendimento sobre as múltiplas formas de viver e amar.
Da mesma forma, falar sobre assexualidade, destaca a Dra. Daiane Pagliarin, também é fortalecer o significado da sigla LGBTQIAPN+, que contempla uma diversidade de orientações e identidades ainda pouco representadas. É importante frisar que a inclusão começa pelo reconhecimento, que passa por informação, escuta e respeito.
Desejo de ter filhos entre pessoas assexuais: o que a sociedade ainda não entende
A ideia de que o desejo de ter filhos está necessariamente ligado à vida sexual ainda é muito presente na sociedade. Mas essa visão ignora realidades diversas, como as dos assexuais que querem formar uma família. A assexualidade é marcada pela ausência de atração sexual, mas não pela falta de afeto, de vínculos ou de projetos de vida. Isso quer dizer que assexualidade e parentalidade podem e devem estar juntos.
É comum que a sociedade questione essa possibilidade com perguntas como: “Mas como você vai ter filhos sem fazer sexo?” ou “Você nem sente desejo, por que teria um filho?”. Essas frases refletem a falta de compreensão e reforçam estigmas. No entanto, a realidade é outra: pessoas assexuais precisam ter seus sonhos respeitados. Afinal, formar uma família vai muito além do resultado de uma relação sexual, trata-se de uma escolha afetiva e uma construção social legítima. A família é uma organização básica e fundamental da sociedade, reconhecida e protegida legalmente, e, por isso, constitui um direito de todas as pessoas, sem distinções de orientação sexual, identidade de gênero ou qualquer outra natureza, conforme garante a Constituição. Negar esse direito a alguém com base em preconceitos é perpetuar exclusões que não cabem em uma sociedade democrática e plural.
Nesse sentido, existem diferentes formas de tornar real a maternidade solo assexual ou a paternidade solo assexual.
Algumas pessoas optam pela produção independente, recorrendo à reprodução assistida com doação de sêmen, óvulos ou embriões. Outras escolhem formar arranjos de coparentalidade com amigos ou parceiros que compartilham o mesmo desejo, ainda que sem envolvimento sexual. Há também relações estáveis entre pessoas assexuais que decidem, juntas, ampliar a família.
Além disso, o congelamento de óvulos é uma alternativa cada vez mais acessível, especialmente para quem quer postergar a maternidade, seja por motivos pessoais, profissionais ou emocionais. No caso dos assexuais, essa pode ser uma estratégia para preservar o sonho de construir uma família sem pressões externas.
É importante salientar ainda que a assexualidade não é sinônimo de solidão ou isolamento. É uma forma válida de estar no mundo, com suas próprias dinâmicas e afetos. Assim, validar o desejo de ter filhos entre pessoas assexuais é ampliar nosso entendimento sobre o que significa formar uma família. E, acima de tudo, é garantir que todas as pessoas, independente de sua orientação, possam sonhar, escolher e viver a parentalidade de forma plena e com respeito.
Reprodução assistida como ponte entre desejo e realização
Para pessoas assexuais que desejam ter filhos, a reprodução assistida surge como um caminho ético, acolhedor e concretamente possível. Ela rompe com a ideia, ainda tão presente na sociedade de que o sexo é condição indispensável para a parentalidade. Ao permitir que o desejo de formar uma família se realize sem a necessidade de uma relação sexual, esse recurso médico se torna também um instrumento de liberdade e autonomia.
A inseminação artificial intra uterina, por exemplo, é uma das opções mais comuns e acessíveis. Sem exigir vínculo conjugal, a reprodução assistida oferece às pessoas assexuais, inclusive em maternidade solo, uma alternativa segura para realizar o sonho de ter filhos.
Para quem deseja mais tempo, o congelamento de óvulos também pode ser considerado, ampliando as possibilidades de escolha conforme o tempo e os planos de vida.
De acordo com a Dra. Daiane, mais do que uma solução técnica, a reprodução assistida representa o reconhecimento de que o desejo de ser mãe ou pai não precisa passar pelo desejo sexual. E, mais importante ainda: ninguém precisa “provar” sua orientação ou justificar suas motivações para acessar esse tipo de tratamento. O respeito ao projeto individual deve sempre ser o ponto de partida.
Ao oferecer técnicas de reprodução assistida, clínicas especializadas reafirmam que a diversidade de famílias é legítima. Assim, pessoas assexuais também têm o direito de realizar seus sonhos reprodutivos com acolhimento, cuidado e dignidade.
Quer entender mais sobre os procedimentos? Acesse nosso texto sobre inseminação artificial ou explore nosso conteúdo de reprodução assistida para conhecer as opções disponíveis.
Inseminação artificial em clínica ou caseira? Entenda as diferenças
A relação entre inseminação artificial e assexualidade reforça que o desejo de parentalidade não depende da vivência sexual. Desta forma, como já vimos, a IIU pode ser uma alternativa viável para os assexuais realizarem o sonho de ter filhos. Nesse contexto, surgem duas possibilidades: a inseminação caseira e a realizada em ambiente clínico.
A inseminação caseira consiste na introdução do sêmen no canal vaginal fora do ambiente médico. Embora algumas pessoas considerem esse método mais íntimo ou acessível, ele não é regulamentado por órgãos de saúde. Assim, pode gerar riscos, tanto em relação à segurança biológica quanto aos aspectos legais da parentalidade.
Já a inseminação artificial em clínica é um procedimento seguro, controlado e respaldado por diretrizes médicas e jurídicas. Além de contar com o acompanhamento de profissionais especializados, o método garante exames prévios, escolha ética de doadores e menos riscos para a gestante e o bebê.
Outro ponto essencial é o acolhimento. Clínicas de reprodução assistida têm evoluído para oferecer um ambiente respeitoso, discreto e livre de julgamentos. O paciente tem o direito de conduzir esse processo de forma individualizada, sendo ouvido em seus desejos, limites e valores.
Se você quiser entender melhor como funciona o procedimento, acesse o link inseminação artificial.
Casais assexuais e maternidade/paternidade solo
Para quem está no espectro da assexualidade, existem diversos caminhos possíveis para realizar o sonho de construir uma família. Sendo assim, pode ser com ou sem parceria ou por meio de produção independente. O que importa é que a diversidade de projetos familiares existe e todos merecem acolhimento.
Além disso, casais assexuais, formados por pessoas que não sentem atração sexual, mas mantêm uma relação afetiva, também podem construir famílias com planejamento, estabilidade e amor. A ausência de sexualidade não impede o cuidado, a educação e o vínculo profundo com uma criança.
Outro caminho possível é a parentalidade solo, escolha concreta e empoderadora. Muitas pessoas nesse espectro optam por realizar seu desejo de ser mãe ou pai sozinhos, por meio de técnicas de reprodução assistida. A produção independente oferece essa possibilidade de forma segura e planejada, respeitando o tempo e os desejos individuais.
Reconhecer esses formatos familiares é um passo importante para ampliar a escuta e o acesso à saúde reprodutiva com afeto, cuidado e equidade.
Atendimento médico inclusivo para pessoas assexuais
Embora o acesso à saúde deva ser um direito universal, ainda hoje muitas pessoas no espectro da assexualidade enfrentam barreiras quando procuram apoio médico, especialmente ligados à reprodução. Suposições heteronormativas, linguagem inadequada e falta de escuta ativa podem tornar esse caminho mais difícil do que deveria ser. Por isso, é importante que clínicas e profissionais estejam preparados para acolher, sem julgamentos, todas as pessoas e suas orientações sexuais.
Na Nilo Frantz, entendemos que cada história é única e que o cuidado começa na forma como ouvimos. A escuta atenciosa e o uso de uma linguagem inclusiva são mais do que boas práticas: são pilares de um atendimento ético, humanizado e verdadeiramente centrado na pessoa. Nossa equipe está preparada para atender com sensibilidade aqueles que fogem dos padrões normativos, respeitando afetos, vínculos e projetos familiares diversos.
Seja em uma jornada de maternidade solo assexual, em arranjos de coparentalidade ou em outros formatos familiares, nossa missão é oferecer um ambiente seguro, acolhedor e tecnicamente preparado. Aqui, o sonho da parentalidade pode ser vivido com dignidade, apoio e liberdade.
Acreditamos em uma medicina que reconhece a diversidade como valor. Isso inclui integrar a assexualidade de forma respeitosa no cuidado em saúde reprodutiva, ampliando o olhar sobre o significado da sigla LGBTQIAPN+. Desta forma, reconhecemos que toda forma de amar importa, inclusive aquelas que não passam pela sexualidade tradicional.
Conclusão
Como vimos, pessoas assexuais têm o direito e a possibilidade real de formar uma família, de acordo com seus valores, tempos e desejos. Nesse sentido, a reprodução assistida é um caminho possível, seguro e acolhedor para tornar esse sonho sem imposições ou julgamentos.
Na Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, respeitamos as singularidades de cada história. Nosso compromisso é com a diversidade, o acolhimento e o cuidado individualizado, sempre com empatia e atenção às diferentes formas de viver e amar.
Se esse é um projeto importante para você, saiba que estamos aqui para orientar, apoiar e caminhar ao seu lado, com confiança, sensibilidade e total respeito às suas escolhas.
Se você tem interesse em saber mais sobre os tratamentos reprodutivos, acesse nosso conteúdo em Reprodução Assistida – Os tratamentos que geram novas possibilidades para a vida.